segunda-feira, 9 de abril de 2012

Camélia Incendiária




Há-de nascer em mim uma última camélia
Naquele momento em que tudo o que
Alguma vez fiz acreditado, ceder
E ficar a noite comprida sobre
Os nossos ombros gastos e marmóreos
Com a Lua a coroar o abismo
Das coisas existirem, e isso ser
Absoluto. Os teus cabelos mortos.

Os nomes de todas as raparigas
Passarão a ser luzes no fim do mundo
E elas não serão. Um último corvo
Numa última manhã, turva e curva
A pender já para a noite
Que nos encerra aos penhascos
Da existência luzidia.

A mãe, o pai, o irmão, o filho
Se o houvesse, transformados na cinza
Que me cobre os olhos vítreos
E arranhados no alvorecer.

A última glória
Despida de glória.
A vida não vale.
E que por fim a tocha arda
Pesada no corpo
E nada dê aos homens
Que não a sombra dos anjos
E o engano constante
E precioso, de se continuar
A traição, de se continuar...


André Consciência

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