quinta-feira, 29 de março de 2012

The End of Orgy


Susanne - Saudek



Luz da manhã, Sol anterior
Ao Sol. Habita este tabernáculo
De flor e deserto,
Desterra o pensamento
Que é escrever as linhas suadas
Da vida em esturpor.

Que a ave não tenha asas
Ou o poeta coração
Que o pintor seque seco
E a luz na escuridão
Ou serei o santuário
De todas as canções
Que a morte não calou.

Feiticeira das auroras
Cujo cântico é o cântico
De todas as demoras
Olha para mim e ver-me-às
Sem braços ou pernas,
Membro ou língua
Olhos ou dente
E desfaz-te do teu abraço
Para que seja o meu abraço
Quando não tenho cauda
Ou membros ou luz

Tu, tu que me amaste
Quando os quartos foram escuros
Prende-me à tua memória
Um crucifixo niilista
Da translucidez
E do outrora.


André Consciência

terça-feira, 27 de março de 2012

Dug Our Treasures There

No pôr de Vénus um amor
Do tamanho da brandura aconchegada
Que te são os olhos
A dizer-me: saúda o limite
Dos tranpolins dourados do desejo

E como se eu não te visse
Carrego a penugem sombriada
Dos fins do mundo
Com ofertas de outros Sol poentes
Que embrenharemos na solidão
E a rompemos

Ah, janela à Lua
Pele do meu calor
Carmesim.
Da morte
Sabem não saber
O teu rosto
E nada sabem.

Há homens que se despenham
Na noite interrompida.
Nós somos cobras nos trigos
Da manhã.

Ama-me
E eu saberei amar
O fim de mim.


André Consciência

terça-feira, 13 de março de 2012

Malak VII

No terraço, com a vastidão verde do Nilo à minha frente, untei-a, na sua nudez, de mel e leite de cabra. A luz do pôr do Sol incidia na vela solitária e eu senti a minha alegria a encher-se.

Acordei antes do alvorecer ainda com o terror a pairar sobre mim.

domingo, 4 de março de 2012

O Sopro de Hórus


Horus Blowing - Babalith


Asas de ganso em pleno voo
Luzindo ao Sol
Rastos de múltiplas ondinas
Espraiavam nas águas plácidas
Um enorme leão de juba negra
Com a sua lança de bronze
Entrelaçado para fazer uma corda
Retesado(s) e saliente(s) no orgulho
Do esforço
Asas sussurrantes encobriam o Sol
Das plantações de papiro
Em densa nuvem
Ìbis pretos e brancos de vulturinas
Cabeças e plumagem escarlate
No centro do peito

Um redemoinho pesado e volumoso que fez o meu ânimo
Estremecer.


André Consciência