Susanne - Saudek
Luz da manhã, Sol anterior
Ao Sol. Habita este tabernáculo
De flor e deserto,
Desterra o pensamento
Que é escrever as linhas suadas
Da vida em esturpor.
Que a ave não tenha asas
Ou o poeta coração
Que o pintor seque seco
E a luz na escuridão
Ou serei o santuário
De todas as canções
Que a morte não calou.
Feiticeira das auroras
Cujo cântico é o cântico
De todas as demoras
Olha para mim e ver-me-às
Sem braços ou pernas,
Membro ou língua
Olhos ou dente
E desfaz-te do teu abraço
Para que seja o meu abraço
Quando não tenho cauda
Ou membros ou luz
Tu, tu que me amaste
Quando os quartos foram escuros
Prende-me à tua memória
Um crucifixo niilista
Da translucidez
E do outrora.
André Consciência