quarta-feira, 22 de junho de 2011

Viagens


Edite Melo


Rodeado de estrelas e pelas oito portas
Apressa-se a sair da aldeia
O velho carvoeiro de corpo inerte
Cuja cabeça se desprende do corpo à noite
Aponta para as papas e para o colchão
O corpo começa a dissolver-se
Os outros esqueletos regressam ao rio
E afundam-se.

Um chifre de marfim é bastante fundo
O sapo projecta a cabeça para a frente
Acesa à porta de uma cabana tosca de pastor
A estrada desaparece num pequeno vale arborizado
Á medida que o Sol se vai escondendo
O céu ganha uma cor de laranja vermelha.

Esperam pelo anoitecer
Para se aproximarem
Do portão escondido.

O pobre homem cai redondo no chão
Sem fazer um ruído.
A monotonia das terras encharcadas pela chuva.
O caminho segue às curvas no meio do nevoeiro.

O louva-a-deus penetra nas chamas.
As cabeças sem corpo começam a gritar:
"Talvez um dia encontres a jovem que seguiste"
Parece melancólica mas conduz-te à sua humilde casa.

Sobes para uma elevação coberta de lodo
Na margem oposta, pingando das profundezas,
Levas a trompa antiga aos lábios e sopras
Com força.


Horned Wolf

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