quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mulher Mão


Le Jockey Perdu - René Magritte


Mãos de mulher, sombra coagida,
Os minutos a desaparecerem com sufoco.
Esta saudade rasgada, minha voz
Ultrajada. Peito tremente,
Derramado até aos cotovelos
Na cevada.

Maldita manhã, escrever para nada,
Nem sequer um ritmo de janela
O tempo turva a saudade,
Peito fechado, peito escuro
E lambido.

A porta abre-se e fecha-se sem que nela passes,
Mede-se o silêncio e confirma-se a distância dos sons.
A bomba rega os campos amarelos, e ouvíamos cantigas
Pela rua de braço dado.

Ah, velha, nova memória que me comes as costas
Ao Inverno, ao inicio do serão, só fechar a porta no fim da noite.
Arregalo os olhos à passagem do vento, bato as pálpebras
Em todas as direcções, e ignoro.

Os ouvidos enfiavam-se nos gemidos,
Será que se lembra a pedra
Da forma do teu queixo
Desenhado no tampo da mesa
Pelo dedo do meu lembrar?

Ah leiam ou falem com a minha imagem
Sabendo que já não estou, mas que o sejam!
Sabem-me mal a porra dos cigarros
Que me ardem as mãos, o medo me não mete
Escuro, e tenho uma cama de ferro,
As oliveiras ainda têm estrelas e as estrelas
Sombras negras, os homens ainda jogam às cartas
Os seus risos uma demência de Lua,
Os cães ladram, de uma ponta à outra da vila
Não tenho rosto para atirar água, mas um abismo,
Cimento a secar, bater com os baldes e fazer eco,
Espalho-me pela manhã e não saio daqui,
Que ser melodia, é ser incompleto.


André Consciência

Sem comentários:

Enviar um comentário