quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O Operário


Sisyphys (1548–49) by Titian


Um homem caminha
A brilhar de si para si
E o mundo prostra-se
Em alívio.

Aos ombros o homem traz
As brasas, e a superfície pesada
Do Sol, as suas costas negras
Esclarecem a escuridão
E há fagulhas no céu
Que se levantam do chão. 

As pernas de ferro movem-se
Uma à frente da outra, 
E alguma coisa cai com estrondo
De um lugar longínquo
Mas o homem prossegue
Os olhos postos no Inferno
E em alguém que fraqueja. 

O chumbo do seu peito
É uma clareira estranha
E quando chove o homem, pulsante 
Escreve, mas a chuva não lhe toca
E a solidão boquiaberta
Foge à sua toca.

André Consciência

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