sábado, 25 de fevereiro de 2012

Malak VI



A nossa última noite foi por entre árvores que cresciam na estreita língua de terra entre dois rios. Amarrámos o barco à margem e depois acendemos fogueiras. A noite estava quente e seca. Fizemos um cordão de fogo de uma à outra margem do rio para não deter os anjos, vigiamos para lá das chamas e alimentámo-las na escuridão. Depois reunimo-nos para entoar cânticos, até que o cansaço nos venceu. Envolvemo-nos nas nossas capas debaixo das árvores. Escutei os ruídos do rio, enquanto ela respirava, até os sonhos chegarem.


Horned Wolf

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Diário de um Vagabundo




O mundo morreu! Sim, morreu
Isto vos digo; A minha razão
De viver assim renasceu…
Quem sou eu? – Perguntais:
Mero caminhante e sem abrigo.
“Pobre infeliz” dizei – Virai a face
E escarnecei. Filho das ruas e do vento
Corpo sem espírito nem alento

Prevaricador desavergonhado!
Sanguessuga social desmoronado!
Abro o peito sem nada a perder
Admitindo o desalento
Face ao mundo em retrocedimento;
Um poço sem fundo a enegrecer.

Ide então… vendei vossas almas
E vossos corpos à sociedade;
A morte caminha sobre nossas auras
Em passos largos de finalidade.
A insignificância de onde vivemos
Nós a criámos; Esgotando esforços
Nos lugares errados.

Akila Sekhet

o irmão estava a pensar

No tempo entre a sua elevação a deusa e a sua morte no fogo do Sol

Todas as manhãs guerreiros que lhes abençoasse as espadas pescadores tocava nos barcos

Túmulos abriam as enormes pedras para o seu cavernoso interior

misturavam sombras húmidas

jovem dourado pelos vales embriagados onde o povo lavava

simples circulo governava a região


Horned Wolf

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Túmulo

O Túmulo - Emanuel Pereira


Os salmões voltaram
As gralhas cresciam nos ulmeiros
O cucu cantava onde o gelo do Inverno
Tinha fechado o rio.

As graças banqueteavam-se
Com os patinhos do Mai
As libelinhas esvoaçavam
Por entre os túmulos dos antepassados.

A Primavera avançava sobre os veados
Os chifres mudavam, o pêlo cinzento
Os campos eram lavrados
Por entre os túmulos dos antepassados.

As mulheres sacrificavam um cordeiro
Os peneireiros voavam sobre o tempo
Asas azuis flutuavam, as orquídeas floriam.

O Verão calava os tordos
Mas não os túmulos dos antepassados.


Horned Wolf

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Malak V




Quando a escuridão da noite era total e as fagulhas rodopiavam no céu, correndo entre as estrelas brancas e duras, doze raparigas nuas iam passear-se pelo círculo de fogo, onde os homens as perseguiam. Os anjos, que até ai haviam dançado junto ao anel de chamas, detinham-se para verem as raparigas esquivarem-se do desejo, às voltas. Porém, uma a uma, as raparigas eram apanhadas e cobertas.

André Consciência