terça-feira, 30 de novembro de 2010

Song of Love


Song of Love - Rene Magritte



I

As vezes que te vi dançar já chegaram
Para me dar a vida. Mas eu desejava
Ser árvore na tua guitarra. Que tu olhasses
Para mim sem o peso do mundo existir
Que a água que anima o rio
Nascesse toda e abafasse o mar.
E abafa o mar.


II

Já não queres ouvir mais poesia. Direi as coisas de outra maneira. Olha, este é o meu papel, e já traz a tinta, com estrelas, e o pincel, de vivê-las. Não é sobre ele que eu vou falar: o papel é um jardim junto ao Tejo, no Oriente. Espera, estamos a ver o fim dos dias juntos (podia ter sido qualquer vez que olhássemos para o que no outro olha). As luzes falham. Já imaginaram, se houvesse uma noite, em que nem uma única chama se mantivesse acesa? As coisas cá de fora são todas uma brasa incandescida: porque entre nós passa uma água fresca e etérea, lembras-te? Nunca chegará o dia, em que eu me esquecerei do fim do mundo.


André Consciência

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