O palácio do Príncipe é uma mulher de paredes brancas e janelas voltadas ao crepúsculo. As janelas são muitas e para lá das gloriosas sacadas de ouro escuta-se o sussurrar das princesas ao longo dos beirais esculpidos. Ali, os poetas vestem-se de peles ou de seda e andorinhas migram em pequenos círculos sempre no mesmo céu. Os pomares decompõem-se com as flores que florescem, os lagartos brilham esticados e imóveis ao Sol de barbas congeladas, os homens adormecem ao meio-dia da neve que cobre as ameias, as borboletas flutuam sobre pingentes de gelo, e os pássaros de plumagem brilhante equilibram-se no vento selvagem dos locais abandonados, as mariposas maravilham-se pelos campos frios entre flocos, mais altas ainda que os contrafortes, e os gansos selvagens voam baixo, com os gloriosos insectos e as orquídeas iridescentes. As águas gorgolejam quentes sob as nuvens negras e tudo dança num círculo de luz.
André Consciência
André Consciência