Como uma silenciosa estrela no espaço é toda a palavra. O processo que no iniciado desperta a natureza angélica é o poético. Primeiro ele é sensível à terra, ao mar, à carne, à sua habitação, à cidade, ao deserto e ao campo; às montanhas e aos vales, às ilhas, às praias e às florestas. Depois tacteia o que emana das pessoas, dos elementos, dos poderes, dos anfíbios e dos mamíferos. Medita na mente dos cientistas, dos filósofos, dos químicos, abre o crânio ao céu e ultrapassa os obstáculos. A seguir deixa-se ficar só com o que há de imediato. Dá aos outros o que ele não tem mas que é destes, e os astros descem à terra, ao mar, à carne, à cidade e às florestas. Sabe que o espelho das coisas o oculta, e que o fogo o revela. Por meio de incendiar o espelho pode depois olhar a natureza e observar a sua profundidade em extensão, as inteligências que a governam. Então, vestido das ideias afirma automaticamente o espírito, e ainda que as suas ideias não sejam universais, o seu espírito será. Caminha como uma imperatriz sobre o corredor vermelho do pecado, adquire a experiência de um tigre, cobre-se dos elementos da terra e desaparece nela. De si ficará só a força e estará vestido de fogo, as paixões, encurraladas, irromperão pela sua carne, o seu espírito como uma águia bicando o seu corpo e o seu corpo estrangulando-lhe o espírito como uma serpente. Mas direcciona todos esses elementos para o seguinte enigma: "No espaço vazio, o que significa a Ousadia?", os seus instintos fazendo-o silencioso como o caçador; e sem nunca descobrir a terra prometida, retorna um monumento da mesma, como um homem que, durante tempo suficiente, se fitou ao espelho, apercebendo-se que a maior porção da sua aparência jaz entre as sobrancelhas.
André Consciência, de um apotamento escrito aos dezoito anos.