Mitra e o Touro, do mithraeum em Marino, séc. III
O touro fita as pastagens e cresce, perante a sua atenção, o verde,
O negro rasga-se, e a morte suspende-se.
Sabendo-o, as nuvens atropelam-se em galope, sedentas de terra
E miríades de gotas se precipitam contra o efémero,
Tudo se torna sombra móvel d’aquele que luze,
A tarde cura a manhã, a manhã cura a noite, e redime
A noite a tarde, na precipitação renovada da terra, da planta,
Da água dos poderes.
O horizonte rouba o corpo desse touro, como Tarquínio e Lucrécia
E dos seus grilhões levanta os mares, os rios aéreos, o veloz cavalo
Do Sol cujos cascos pisam o Reino e doam calor, as nascentes
Muitas, que, ricas em leite, alimentam as crianças; levanta a Lua,
Que guarda do ardor cândido a semente do touro, e as
Estrelas que no corpo da besta plantaram as águas.
A dor afasta-se, a febre adormece, o mal evapora-se, a infecção,
E a carcaça do touro decompõe-se.
André Consciência
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