quarta-feira, 9 de abril de 2014

Das Aves Azuis





O Aterro em 1881; No Cais do Tejo, Alfredo Keil


Chove, as paredes de água deslizam
Luminosidade sobre as cidades, com rostos
De mulheres cansadas, e homens
Embrutecendo o silêncio.


O silêncio principia com a fluidez
Dos momentos parados desta noite que não passa
E sobre a qual os dias são como nuvens
No céu estável que me lembra
Primeiro os fantasmas dos teus olhos
Depois a eternidade do peito ondulante
Nas noites em que principiava
Como um desponte que lá fora o mundo pinta.

As palavras de um poema, este, passam-nos
Ao lado, e assim o grilo, sem se reparar,
Faz parte da tranquilidade escurecida
Dos nossos campos inabitados, que as crianças
E os adultos que passeiam crianças
Pisam, numa manifestação de dedos, nossos,
Entrelaçados para além das cores que compõem
A canção colossal da civilização.

E deixa, os amores morrerem, os pensamentos
Envelhecerem.
Deixa, os temores correrem, os rancores
Esmorecerem.
Nada temos com este tédio
Nem o rio com a garça.

A luz e a sombra são tão duas demoras,
E as demoras são todas horas, nossas,
De assombro com que as olhamos se
Nos olhamos.


André Consciência

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