quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Transfiguração de Jesus


Transfiguração de Jesus - Teófanes, o Grego


Todos os dias o cão ladra para uma janela que se não abre.

Aconteceu uma memória, a revelação abala a chuva.
É o passado que faz vibrar a natureza, a manhã solar,
O Verão opressivo, Março a atirar-se pelos ventos
E a Lua sem conseguir, no silêncio, parar de cair,
As massas nubladas, a música fria e cristalizada
Que povoa, e abre as esferas no labirinto dessa chuva
Que é aura.

Todos os dias o cão ladra para uma janela que se não abre,
E sabe não haver retórica possível.
A vertigem baloiça-se nas massas cinza
Por dentro da janela, a água forma horas e salas de jantar
E fizeram praças nos locais inatingíveis.

A colina desce as casas em toalhas aquosas
Os prédios adentram-se pelos sinos das Igrejas
Ninguém o vê, mas o cão percebe, e ladra.
A água cai, sim, mas é gente silenciosa
Que se levanta dela.

Nas livrarias, o chão de tábuas apodrece de humanidade
E o vento atira-a pela porta.

Eu gritei aos astros até enlouquecer
E a consciência esgotou até às fezes
A minha condição animal.

Todos os dias o cão ladra para uma janela que se não abre.


Horned Wolf

Sem comentários:

Enviar um comentário