quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
O Sol Treme
Homem de Vitrúvio - Laonardi da Vinci
A luz a estalar o crânio. Imaginei
Que o Sol se enchia de terror.
Nessa prolongada meditação
A gordura que me enchia o rosto contente
Espalha-se pelos campos que se estendem
Até perder de vista, um clarão acende
O oxigénio, e o mundo aparece
Uma absurda estupidez.
Ó, é que não há nenhum esforço
Em nascer, mas para morrer
É necessário o esforço total
Do não esforço de nascer.
Toda a gente sabe, que qualquer criança
Assusta o Sol até à velhice.
As carroças, com homens de pénis
E alecrins na mão, perfilham
Martelando a memória da cidade
De terra e de estrume:
Isto, o Sol não sente em si
Tanto quanto sente a penumbra
De um quarto, como ela é
Para uma criança
No seu terror as secretárias estampam-se
Nas lâmpadas dos candeeiros.
O Sol todo treme, quando
No fundo da noite, uma mulher
Fala alto – isto é tão sobrenatural
Que nos é proibido falarmos sozinhos:
Significa que o céu não é o lugar do Sol.
Por exemplo, o oriente tem sempre varandas
Onde a noite absorve mais o fresco abrasador, que nas outras
Varandas. Aí, as serras gostam de se colocar por detrás
Das luas breves, à espera dos silêncios ásperos de Antares
E das melodias dos espaços no grande vazio das órbitas.
Se olharmos para cima, percebemos as estrelas deitarem-se ao comprido
Para nos verem melhor, pensamos que pensamos tudo isto,
Sem na verdade o ver, até ao dia que na escuridão
Um espelho nos diz sermos um ladrão.
Por isso, quando o Sol se apercebe de si mesmo num homem,
Aterrorizado, destruirá a sua civilização, mas os ralos
E os grilos, permanecerão de noite, o céu em plena Lua
E a sabedoria não terá piscado um olho. O calor
Crepitará nas coisas que pairam, e as cigarras
Estalarão.
Por exemplo, uma pedra não significa nada
Se for sabida de cor, uma madeira, ou uma estrela,
Mas no nada que significam, não são iguais umas às outras.
Sobretudo isto aterroriza o Sol, até que,
Rendendo, se arda.
Horned Wolf
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