sábado, 18 de dezembro de 2010

Tango to Évora




Vede, a cidade, e como continua branca
Plantaram na planície ruínas, semearam
Nas ciladas, ruas. Ocultaram-nas com santos
Partidos por muitas eras, e nichos de arcos
Évora está dorida com a lembrança,
Com o vento que fustiga as vozes de sonho
Do ossário dos homens, Évora
Uma gigante encruzilhada mortuária
Um luar silencioso e luminoso
Encostado ao vazio do casarão do espaço
E da desolação.

A manhã ao Sol mórbido, descobre
Os camponeses em espiral, cantando
Uma tragédia calada nas colunas em coral
E na floresta móvel que Diana atravessa
Suspenso de memória e sem ruído
Um murmúrio oblíquo desce as velhas ruas
A passo apressado, à procura de outras
Mais obscuras, na busca dos contornos
Da face estranha e intocável
Que errou as construções.

Que contou a evolução da vida
Para a explicar, mas nem eu, nem Évora
Somos nós, anjo que se passou por criança
Anjo que não deixou passar a cidade.

A noite da Lua é lavada por um grande Setembro,
Uma oração mutilada habita os claustros longínquos
A manhã não passa e as ruínas da planície
Ganham ar de planície. As rosas do Verão
Também não cessam de morrer nos jardins verdes
E no lago há uma antiga taça de mármore
Que bebe, sem parar, os pombos,
Com fortes descargas de água.

A planície é tão imensa, que um homem,
De pé, sente-se deitado, e quanto isto mais é
Mais a planície ganha contornos de mar
E estar deitado, de o olhar do topo
Da falésia.

Abandonado ao Sol, assobio,
Como uma criança, como uma fita negra
Ao longo da estrada. As coisas pousam
Ao de leve, na melancolia do Sol
Porque arrefeceu repentinamente,
As folhas secas sopram em coro
As andorinhas baloiçam nos fios eléctricos
E os seus olhos tornam-se distância.


Horned Wolf

Sem comentários:

Enviar um comentário