Caminhava descalço e nu na neve, dedilhando o seu alaúde e enchendo a noite com uma música estranha e selvagem. Tinha subido aos ermos e desolados colmilhos de gelo em busca de uma canção terrível o suficiente para derrubar a muralha que separa o mundo do mundo. O vento estava a soprar neve para os seus olhos. Viu o cavalo morto, estatelado no sopé do monte, meio enterrado na brancura espessa. Viu os outros, todos os outros, com as extremidades retorcidas de um modo grotesco e os olhos cegos fixos na morte, os corvos a esvoaçar de um para o outro. Virara-se ao ouvir o súbito som de asas. Que a pedra o lembrasse, ao último dos homens, ao pai do primeiro silêncio.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Alaúde Revolto
Caminhava descalço e nu na neve, dedilhando o seu alaúde e enchendo a noite com uma música estranha e selvagem. Tinha subido aos ermos e desolados colmilhos de gelo em busca de uma canção terrível o suficiente para derrubar a muralha que separa o mundo do mundo. O vento estava a soprar neve para os seus olhos. Viu o cavalo morto, estatelado no sopé do monte, meio enterrado na brancura espessa. Viu os outros, todos os outros, com as extremidades retorcidas de um modo grotesco e os olhos cegos fixos na morte, os corvos a esvoaçar de um para o outro. Virara-se ao ouvir o súbito som de asas. Que a pedra o lembrasse, ao último dos homens, ao pai do primeiro silêncio.
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