The Siege and Relief of Leiden - Erwin Olaf
Imensos arcos cinzentos do rio doce ladeavam-no. O som da sua língua reverberava pela lagoa e pelas enormes torres quadradas, atenuado pela distância, mas ainda suficientemente forte para abalar as cidades adormecidas. "Aprende três coisas novas antes de voltares", dizia aos seus visitantes. Eles faziam-no sempre, por vezes não passavam de três palavras novas sem língua, histórias que não haviam encontrado ninguém para as contar, ou maravilhosos e estranhos acontecimentos do vasto mundo que se estendia para lá do homem amável: chuvas, guerras, sapos a eclodir. Adivinhas, truques de mágico, anedotas, segredos. A cada segredo que lhe contavam o homem amável enchia-se de mais nevoeiro, uma nova máscara aparecia numa nova parte do corpo, e novos suspiros assolavam os velhos ossos. A rapariga que era a sua visitante no presente sabia-lhe um rasto que datava um século, embora o homem afirmasse que eram três os que tinha em si. Este surgira do ventre de escravas, prostitutas e sémen de ladrões, era um filho bastardo que escapava. Viera de meia centena de terras até ali em busca de refúgio, meia centena de deuses vieram com ele e todos eles estrangeiros. Por vezes aparecia como uma cabra preta, com um leão cuja pelugem era a noite. "Toda a humanidade me pertence. Caso contrário, algures no mundo haveria um povo que viveria para sempre. Conheces algum povo que viva para sempre?" Perguntava à rapariga e a rapariga ficava a sonhar com o dia em que a névoa dos segredos revelados o escondesse.
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