sábado, 25 de setembro de 2010

Evocação III


Lunáticos - Cordélia Urueta

“A esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir-se com ele na ressurreição; oferece sufrágio todos os dias aniversários de sua morte” (De monogamia, 10).

Através da única janela no tecto um pedaço de céu roxo condensa-se no triângulo com a velocidade a que a cinza dos incensos cai. És difícil de definir. Um conjunto configurado de uvas azuis ou como eras, excepto que vestida de um olho ciclópico e vulcânico. Todos estamos cansados. E isso lembra-me o mar e o barco quebrado que escolhemos enquanto assombramos o eléctrico alto mar. A sombra da Lua canta magnética. Não temos esperança, e isso agrada-nos hoje mais do que nunca. O barco é só uma desculpa para o naufrágio. Se apenas conseguisses quebrar esta Oroboros... Despimos-nos na Lua, hoje não te guardo rancor. Amo-te. Os teus seios, duas manchas de pus amarelado. Sim... Amo o bem, e o bem não te conhece. Já ninguém te encontra. Não chores.

Horned Wolf

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