Não sei ao certo a razão pela qual todos tomaram o meu sífilis, primeiro criado como uma criança no carinho do segredo, depois rasgando a membrana ao olho púb(l)ico, como uma pancada na consciência. Eu esperava actos de recriminação, não é a Sífilis doença para pervertidos? Mas não, a odiosa culpa, como se tivesse sido cada um deles a colocar as sementes de morte em mim. E como os odiei ai, com um tom sarcástico de indiferença, como se estivesse tudo bem. Mas os bastardos nem no que respeita o meu próprio processo de morte me concederam o dó da responsabilidade, como se eu fosse um produto dos seus actos moribundos. Actos moribundos com qualquer coisa de muito errada, a ausência do seu vírus mortal nos seus corpos.
Quando estava com alguém, não se falava de mais nada, como se a minha condição fosse um bom tema de conversa e falar sobre ele, e preocuparem-se muito, aliviasse as mazelas. Ah, e o desconforto com que o faziam, o pouco-à-vontade que a minha presença gerava. Divertia-me um pouco. É verdade. Só quando estava sozinho, à janela do meu apartamento, a olhar a lua, é que sorria tristemente. Gostava de estar de volta no campo, com as minhas primeiras aventuras a três. Ou mesmo, muito antes disso, de estar no barco para Tróia, a olhar a minha feiticeira ruiva sem que ela soubesse, ainda, quem eu era. O meu primeiro amor morreu era eu um adolescente, e eu não morri para ninguém porque quando morri, já não era para ninguém senão memória e fantasma.
Mas retomando o curso do dis-curso. Depois desse pouco à vontade começaram a surgir os ataques, os ataques… Como se com isto se protegessem da culpa que nem sequer possuíam. Que parvoíce. Um a um, fodi-lhes a vida. Eles tinham tanto a perder e eu só tinha o fim pela frente e eu queria sair com triunfo, sem que ninguém pusesse a mão na minha morte, no meu ser, no meu eu. E foi ai que me dediquei inteiramente às putas e ao sadomasoquismo. Sem perceber muito bem porque razão, foi ai que estoirei as minhas ultimas notas, nisso e em quartos de pensão para onde por sua vez nunca levei ninguém e onde nunca nenhuma mulher nem nenhum homem me tocou sexualmente, embora as moscas fodessem sobre mim enquanto eu tentava dormir e as baratas caíssem nos copos com agua riscados e as manchas de esperma e sangue de outras pessoas que não eu nem causadas por mim ainda se pudessem ver nos lençóis à luz clara da manhã. Não sei bem o que me levou a nunca mais voltar a casa. Mas um dia senti esse ímpeto, um pouco em reverso, sonhei que a casa ardia e, recordo-me pus-lhe fogo na noite seguinte. Agora, não havia como voltar, ninguém visitaria a minha casa para ver as minhas coisas depois de ido.
Tive saudades de algumas pessoas, família, amantes (só sentia nostalgia, no geral, das primeiras, as da juventude), mas invadia-me ainda mais o nojo que se colava à percepção desses. Às vezes não a conseguia justificar, à náusea, e… sentia-me enlouquecido, sem saber o que me guiava. Talvez a morte, talvez a própria Sífilis? Talvez todo o desgosto da vida e que até então escondera. E tudo isso a ser a mesma criatura monstruosa: eu, e eu em todos os nomes, em todas as pontes e em todas as mulheres nuas que coroei com o luar e cujos castelos derrubei com a minha lança de deus.
Acariciava as memórias e cuspia nas pessoas em si. Na minha mente, degolava cada personagem do palco da memória, quando depois das cortinas se fecharem, surgiam num todo, horríveis, com toda a beleza a ser veneno, arma única para a totalidade do fedor. Por fim, a minha ultima inimiga: a Sífilis, a comer-me que nem uma mãe porca. Curvado, apoiado em duas muletas e algum gesso, paguei, na gota última de dinheiro, o táxi e lá estava. Entre Gaia e o Porto. A ponte, noite funda. Já no rio, ninguém me apanharia.
Agora apetece-me rir. Foi tão fácil fugir e ninguém me apanhar. Haha.
Vocês que estão a ler-me, lembrem-se que são livres, vocês são livres porque ninguém está a olhar e nunca houve alguém a olhar.
Quando estava com alguém, não se falava de mais nada, como se a minha condição fosse um bom tema de conversa e falar sobre ele, e preocuparem-se muito, aliviasse as mazelas. Ah, e o desconforto com que o faziam, o pouco-à-vontade que a minha presença gerava. Divertia-me um pouco. É verdade. Só quando estava sozinho, à janela do meu apartamento, a olhar a lua, é que sorria tristemente. Gostava de estar de volta no campo, com as minhas primeiras aventuras a três. Ou mesmo, muito antes disso, de estar no barco para Tróia, a olhar a minha feiticeira ruiva sem que ela soubesse, ainda, quem eu era. O meu primeiro amor morreu era eu um adolescente, e eu não morri para ninguém porque quando morri, já não era para ninguém senão memória e fantasma.
Mas retomando o curso do dis-curso. Depois desse pouco à vontade começaram a surgir os ataques, os ataques… Como se com isto se protegessem da culpa que nem sequer possuíam. Que parvoíce. Um a um, fodi-lhes a vida. Eles tinham tanto a perder e eu só tinha o fim pela frente e eu queria sair com triunfo, sem que ninguém pusesse a mão na minha morte, no meu ser, no meu eu. E foi ai que me dediquei inteiramente às putas e ao sadomasoquismo. Sem perceber muito bem porque razão, foi ai que estoirei as minhas ultimas notas, nisso e em quartos de pensão para onde por sua vez nunca levei ninguém e onde nunca nenhuma mulher nem nenhum homem me tocou sexualmente, embora as moscas fodessem sobre mim enquanto eu tentava dormir e as baratas caíssem nos copos com agua riscados e as manchas de esperma e sangue de outras pessoas que não eu nem causadas por mim ainda se pudessem ver nos lençóis à luz clara da manhã. Não sei bem o que me levou a nunca mais voltar a casa. Mas um dia senti esse ímpeto, um pouco em reverso, sonhei que a casa ardia e, recordo-me pus-lhe fogo na noite seguinte. Agora, não havia como voltar, ninguém visitaria a minha casa para ver as minhas coisas depois de ido.
Tive saudades de algumas pessoas, família, amantes (só sentia nostalgia, no geral, das primeiras, as da juventude), mas invadia-me ainda mais o nojo que se colava à percepção desses. Às vezes não a conseguia justificar, à náusea, e… sentia-me enlouquecido, sem saber o que me guiava. Talvez a morte, talvez a própria Sífilis? Talvez todo o desgosto da vida e que até então escondera. E tudo isso a ser a mesma criatura monstruosa: eu, e eu em todos os nomes, em todas as pontes e em todas as mulheres nuas que coroei com o luar e cujos castelos derrubei com a minha lança de deus.
Acariciava as memórias e cuspia nas pessoas em si. Na minha mente, degolava cada personagem do palco da memória, quando depois das cortinas se fecharem, surgiam num todo, horríveis, com toda a beleza a ser veneno, arma única para a totalidade do fedor. Por fim, a minha ultima inimiga: a Sífilis, a comer-me que nem uma mãe porca. Curvado, apoiado em duas muletas e algum gesso, paguei, na gota última de dinheiro, o táxi e lá estava. Entre Gaia e o Porto. A ponte, noite funda. Já no rio, ninguém me apanharia.
Agora apetece-me rir. Foi tão fácil fugir e ninguém me apanhar. Haha.
Vocês que estão a ler-me, lembrem-se que são livres, vocês são livres porque ninguém está a olhar e nunca houve alguém a olhar.
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