terça-feira, 24 de maio de 2016

Asas de Musgo




As folhas caem lá fora e a beleza levanta-se. Tudo se ergue no ar, na luz do Sol. Eu fecho os olhos e penso em ti, sejas tu quem fores, de olhos abertos e eu de olhos abertos, fendidos no incêndio da escuta. E quando eu morrer, enterra-me no musgo, que as minhas palavras ganhem silêncio e falem. E o ruído constante do escombro colossal que é o mundo há-de-se chegar para o lado. Um abraço há-de vencer as distâncias, e um pardal pousará na margem plúmbea do rio, se amanhecer, as penas rubras e azuis, como brasas retiradas da fogueira e que, por uma vez, não se apagam. Talvez eu acorde, talvez esteja Sol sob os teus ornamentos exóticos e eu ouça os riachos das fontes a correr e pense que o céu é uma boca sem chão e a vida um balão alaranjado sobre os Olivais Primeiros.

André Consciência

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Eshter


dedicado à santa


O sangue correu para dentro
E docemente, correndo
Em enchente até aos recifes, 
Ela de pé delicado e cabelo de mel
Para acender a estrela no altar
E proteger a noite do seu despertar,

Espírito de Eva, no jardim sem espinhos
Abriu a boca muda num inchaço lunar:
Vaga que varre as baías, sonhos sem pé
Negro a dourar com a graça de virgens
Coração do meu coração a casar 
A noite em silêncio. 

E escala às estrelas em pulso com o Inferno
Alegra-te, dança, tremuleia e alegra-te
E que tudo esteja bem. 

André Consciência