segunda-feira, 8 de junho de 2015

Prelúdio




Casa, com o coração cheio de silêncio vi
Os olhos despedaçados das crianças
Crescer de novo para morrer
E brandas de loucura as crianças soterrarem
As mãos na cabeça larga demais para o corpo
O orvalho sedento beber-lhes a oxidação
E os sorrisos cortejarem e esquartejarem
O coração cheio de silêncio vi.

Casa, a soprar um vento escuro
E eu era um jardim soalheiro
Tu a sombra do palácio perdido
E as estrelas com que te lembro apagam-se
Nas paredes e quem me guiará
No baixio silêncioso das palpelbras azuis
Nos rostos que vão para dentro do meu
Até gritar o nome esquecido
E gritá-lo por o ter esquecido
Para lembrar o espírito do mal que grita
As formas brancas da luz com lepra nevam
E tu gravas-te na minha fronte.

Os pardais enchem as valas de morte
Cantam-te, e Casa,
Hei-de me afundar sob os carvalhos
E apagar o teu rasto
Com a mesma ira de seres incêndio.

André Consciência

domingo, 7 de junho de 2015

A Neve Derretia Num Beco Sem Saída




Olho a aldeia de vinho e secura
O Outono que entra e dependura
As cidades de fogo consumidas

Um vento escuro despe as mulheres ébrias
Da cor azul da uva, vidraças estremecem
Malditas, solitárias na noite calma
As feras negras adornam-se de lírios

Tornam-se loucas e o meu demónio chora.

André Consciência