sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um milhão de anos a dormir





A Lua ergue-se
A brilhar alto
E veste uma prece
A cantar no planalto
O tolo cantar
Do sonho que sonha
Pende
E a sonhar, a lágrima que acabou de passar
E que à espiral no topo do choro
Veio aquietar
Um amanhã mortiço
A passear-se movediço
Sem passar
E deixa-me falar
No meu quarto contigo
O amanhã redistorcido.


Corvo Cego

sábado, 10 de novembro de 2012

Um rapaz é a vontade do vento

The Wick Effect - Rebecca Massey



Bailava à beira das rochas
As poças deixadas pela maré baixa,
Os olhos saltitavam a espreitar debaixo da falésia
A luz lampejava um borrifo de ondas
E o cabelo do Sol esvoaçava ao vento.

Trovoada acima das ilhotas no horizonte:
A mágoa dos marinheiros erguia-se no céu
E batia na base do pináculo rochoso.

Enquanto passava entre as poças
Senti o vento fresco a ficar mais frio
E húmido.


André Consciência

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A Lua Corria Com O Penhasco Branco





E se o vento morresse?
O sinal luminoso na torre
É a única parte visível
Da cidadela. Lembro-me
De falares o idioma do Verão?
Um manto de penas cobriam a terra
Enquanto o cisne era amarrado.
Os mestres cinzentos cobrem-no
Com livros para vender. Tu eras
Um labirinto, e eu não tinha tempo
Para me perder: o dia estava húmido.
Senti olhos em mim, observando-me de dentro
De soleiras escurecidas. No Inverno andávamos
Pelos baixios a apanhar rãs, os teus seios duas
Esfinges altas, um ribeiro de faces rosadas corria
Por perto deles. Um salão de chão de pedra e altas
Janelas arqueadas, eu um homem de cara chupada, corvos
Patrulhavam as ameias em vez de arqueiros.

Ouviam-se batimentos de asas e murmúrios,
E aqui e ali um grito irritado,
No topo dos degraus um jovem com idade de ouro
Cujo olho direito saia de uma vela. Olhava
Para a chama do seu olho à procura de mulheres
Nuas para ir ver o Mago; os leviatãs eram cinzentos.

Toda a feitiçaria provém do sangue ou do fogo
E há sangue de certos homens, que é como o sangue
Das estrelas.

Do lado de lá da janela estava a escurecer.


Horned Wolf

sábado, 3 de novembro de 2012

Coroa de ferro negro suportada por dois corvos




 Campos carbonizados e aldeias queimadas surgiam nas margens, e os baixios e bancos de areia estavam semeados de navios quebrados. A enseada enchia-se de murmúrios e um cisne branco continuava a avançar, começou a colidir com os cadáveres que eram empurrados pela corrente para o mar. Alguns dos corpos transportavam tripulações de corvos, que se erguiam no ar, protestando ruidosamente, quando o cisne perturbava as suas jangadas grotescamente inchadas. Delineada contra as estrelas do princípio da noite, era neve, caindo. O pátio estava coberto por um fino manto branco, que se ia tornando mais espesso e voltava a subir em silêncio. Não haveria mais plantações, nenhuma esperança de uma colheita. Na costa, assassinos de capuzes brancos tinham-se tornado de novo em crianças sob o frio feitiço branco, e travavam uma guerra de bolas de neve pelo pátio e ao longo das ameias.

André Consciência