sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pós-Sonho




Todas as janelas se tornaram negras
O fedor da morte estava
A ficar mais forte
O Sol pusera-se de vez
Asas pretas batiam contra o ar
Da noite enquanto procuravam
Uma forma de entrar
Conseguia ver a ténue luz
De estrelas distantes
Como um noivo a caminho da cama
Um corvo jantava um rei
Pelas portas da Mãe marcharam mulheres brancas.


Horned Wolf

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Os Homens Ocos

I

Somos vazios
Homens de palha
Inclinamo-nos juntos
Elmos com cerradura. Ei-las!
As nossas vozes secas, no momento
Em que juntos sussurramos
Estão quietas e obsoletas
Como vento na erva morta
Ou passos de rato sobre vidro partido
No nosso abafado sótão 

Contorno sem forma, mancha sem cor,
Força paralisada, gesto sem movimento;

Aqueles que passaram
De olhos directos, para o Reino outro da morte
Recordem-nos - se de todo - não como almas
Perdidas e violentas, mas apenas
Como os homens ocos
E empalhados.



II

Olhos que temo ver em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Ali, os olhos são
Sol na coluna quebrada
Ali, uma árvore que balança
E vozes são
Na canção do vento
Mais distantes e mais solenes
Que a estrela desvanecente.

Que demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
E que vista
Enganos mui deliberados
Casacos de rato, pele de corvo, estacas cruzadas
Num campo
A comportar-me como o vento
E não mais -

Não aquele último encontro
No reino do crepúsculo.



III

Eis a terra morta
Eis a terra dos cactos
Aqui as imagens de pedra
São erguidas, aqui recebem
A suplica da mão de um morto
Sob a radiância de uma estrela moribunda.

É assim
No reino outro da morte
Acordar sós
Na hora em que nós
Trememos de ternura
Lábios que beijariam
Formam preces à pedra quebrada.


IV

Os olhos não estão cá
Cá, não há olhos
Neste vale de estrelas a morrer
Neste vale oco
Esta mandíbula estilhaçada dos nossos reinos perdidos
Neste último dos lugares de encontro
Tacteamos juntos
A evitar discurso
Reunidos nesta praia do rio túrgido

Cegos, a não ser
Que olhos ressurjam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino crepuscular da morte
A esperança apenas
De homens ocos.


V

Aqui rondamos a figueira-brava
Brava figueira brava figueira
Aqui rondamos a figueira-brava
Ás cinco da manhã
Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E o acto
Cai a Sombra
Pois Vosso é o Reino
Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a resposta
Cai a Sombra
A vida é muito longa
Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descida
Cai a Sombra
Pois Vosso é o Reino
Pois Vosso é
A vida é
Pois Vosso é

É assim que o mundo acaba
É assim que o mundo acaba
É assim que o mundo acaba
Não com um estrondo, com um suspiro.


T. S. Elliot
Tradução de André Consciência

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Vénus Desarma Cúpido



Não sabia o que desejar, tal como não sabia o que esperava sob aquela luz distante. Os flocos pairavam com a suavidade e o silêncio da memória, cobrindo a erva, salpicando de branco os arbustos e as estátuas e inclinando os ramos das árvores. A neve doía-lhe naquela manhã. Partira com os flocos a turbilhonar à sua volta para ver o grande e vasto mundo. Da mesma forma, a esposa deixou as portadas abertas enquanto se despia. Despiu um manto de raposa branca, luvas de couro, botas atadas a nível do joelho, dois pares de meias para as pernas, o vestido de lã azul, e a roupa interior de seda e linho, quando a neve começou a entrar pela janela. Sustive a respiração, sem desejar perturbar uma beleza tão perfeita. O silêncio fantasmagórico caía e caía, e acumulava-se numa camada grossa e contínua no chão. O mundo tinha fugido de todas as cores. Era finalmente negro, cinzento e branco. Um mundo puro. Flocos de neve roçavam o rosto da estátua da Mulher Chorosa no centro do jardim, com a leveza dos beijos de um amante. Viraram o olhar para o céu e sentiram a neve nas pestanas, saborearam-na nos lábios.

Horned Wolf

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Aneis de Vénus

Venus Disarming Cupid - Parmigianino

Prato 1

Vénus, com um lampião numa mão, uma rosa na outra, uma espada na terceira e uma foice na quarta brame para o sacerdote do fogo secreto - mero aspirante, neste caso -, que foi da luz e depois vendado pois de outro modo os seus olhos consumiriam o mundo:

«O segredo desta porta é ser em oposição a ter»

O aspirante pôs-se a pensar, demorando-se.

Vénus: 

«Estávamos a conversar, mas deixaste de me olhar»

O aspirante:

«Se não pondero movo-me no mundo como uma besta, e sou apenas o que me dá o universo a ser. Sem a razão o homem cai num buraco do qual não poderá sair mais tarde - nisto os escolares não estavam errados, arrisca a condenação que dura sempre»

O anjo que mencionamos sob o nome de Vénus:

«Muitas vezes confunde o profano a vigilância com o pensamento vago e vagueante onde se perde e se faz distraído - esta é que é a tentação do ter. Fecha os olhos longamente, no escuro, não te movas e fita a chama do teu fundo, sob pretexto desta questão. O que vedes?»

O aspirante:

«Um homem. Ficou cego. Ficou cego por muito tempo e os seus olhos tornaram-se estrelas. Este homem vê dois mastins a combaterem no Inferno»

O anjo:

«E atrás desse véu?»

O aspirante:

«Um homem ficou cego por muito tempo até perder o medo da escuridão, e quando perdeu o medo os seus olhos tornaram-se estrelas. Um dia este homem viu uma mulher cuja pele era branca como a Lua e os olhos dois astros azuis. Porque não tinha medo, combateu-a e amou-a. Com ela deu à luz filhos e gerou vida, apesar da mulher ser a morte»

O anjo:

«E atrás desse véu?»

O aspirante:

«Um rei construiu uma muralha para preservar a civilização. Emparedou-se na parte externa a vigiar para fora, de forma que só aqueles sem motivos para temer a luz do rei fizessem estadia no seu reino»

O anjo:

O anjo calou-se.




Horned Wolf

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A Ver Estrelas Cadentes




A muralha chorou e o Sol atravessou lentamente um céu de um azul forte, perto do cair da noite. As sombras estendiam-se negras e bem definidas por todo o castelo. O ocidente tomara a cor de uma nódoa negra, mas o céu por cima da sua cabeça mostrava-se azul cobalto, aprofundando-se até ao púrpura, e as estrelas começavam a surgir. Sentou-se entre melros, apenas com um espantalho como companhia, e observou-a a galopar pelo céu acima, com uma seta entre os seios. Os cristais de gelo tinham pousado no seu rosto, e, ao luar, parecia que estava a usar uma máscara cintilante de prata.   

Horned Wolf

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Sete Céus





I


Atravessando casinhas, pavilhões e torres pequenas, rosáceas e arabescos esculpidos no gelo, fizemos amor nas varandas de balaustradas finas como teias de aranha... Diante de nós a majestosa catedral, cuja porta de gelo tem gravado um pássaro com as asas abertas estendidas para o céu. Fico a olhar para ti, um órgão de gelo escassamente iluminado por raios de luz, sem fazer a mínima ideia de como se toca. Um Gigante da Geada esconde-se atrás de uns rochedos, lá em baixo no vale. Disparas uma saraivada de esferazinhas cor de pérola, que me explodem em cima com efeitos mágicos muito agradáveis. Ouve-se um suspiro fundo e dolorido pelos subterrâneos. As tuas ancas ganham vida e emitem agora um azul da cor do céu. A tua pele está fria, sem ser gelada, e não se derrete. Lá fora, as montanhas continuam até perder de vista, cortadas ao longe por um planalto. O vento faz rodopiar os flocos de neve. O céu está tão claro e azul como nunca vi e os raios do Sol de Inverno reflectem-se intensamente na neve, quase a cegar-nos. Atrás da varanda e das janelas cobertas de geada, a porta dá para uma cela onde jaz um homem acorrentado de pés e mãos à parede de pedra preta e lisa.



II

O Terror dá lugar ao alívio, o Pássaro de Gelo canta outra vez e os duendes fazem coro com ele numa polifonia harmoniosa cujos ecos chegam aos cantos mais recônditos da Catedral. Um grande mocho branco desce a meio da noite, em tom reprovador. Ela é toda uma chuva luminosa de partículas douradas que me enregelam e me oferecem vitalidade. Pego nas chaves de gelo e penduro-as ao lado do órgão. As botas rangem na neve endurecida, quando atravesso casinhas, pavilhões e torres pequenas. Desemboco num cemitério todo salpicado de neve. Algo absolutamente selvático andou a abrir as tuas sepulturas, deixando espalhados fragmentos de gelo e os teus corpos amortalhados em fases diferentes. Sente-se no ar o teu desassossego. Crepita ainda um fogo frio já muito fraco. O pior é que o nosso pequeno quarto está vazio, apenas tapado por uma camada de pó. Talvez fosse imaginação minha, mas era capaz de jurar que ouvi risos ainda há pouco... 



III

A rir, corres para uma das paredes de gelo e dissolves-te nela. Fugiste com uma das minhas coisas! O brinquedo que colocavas à cintura está a desfazer-se por causa do frio e da humidade. Ao entardecer, avisto um alce a comer líquenes nuns rochedos. Uma nuvem de neve está a descer a encosta. As pessoas estão a vestir uma espécie de arreios, após o que saltam para os céus numa espécie de arco. Ao maravilhoso canto do pássaro, as enormes portas de gelo abrem-se de par em par. Continuo na direcção do coro e do órgão. Sobre o teclado está suspenso um enorme anjo de gelo. Parece mentira, mas o bonito pássaro conseguiu sobreviver no meio do calor e da humidade deste lugar infernal. Abre as asas e levanta voo! As tuas feições contraem-se num esgar de espanto e de amor, mas logo lanças para o ar uma magia que faz explodir a ave em mil fragmentos. O problema é que, no vale, a neve é muito espessa e temos de andar constantemente às voltas para nos desviarmos dos montões brancos. De manhã, comemos outra vez, faço-te uma boa massagem nos músculos doridos das pernas e retomamos a caminhada. Soltas um risinho abafado e disparas uma saraivada de beijos. O teu corpo cor de cobre invisível é encimado por duas enormes cabeças de dragão. A força e a bondade que irradias quase me paralisam de pavor. O Pássaro de Gelo endireita a cabeça e começa a cantar. Entoa uns acordes de forma magnífica e, depois, volta a esconder a cabeça debaixo da asa. 



IV

Cheira a queimado e a enxofre. Com a garganta irritada e os olhos a arder, abraço-te. Partimos em direcção ao norte, rezando para que a criatura que por aqui sobrevoa não me veja. Desamarramos a manta de peles no meio do pinhal e preparamo-nos para dormir. É óbvio que as salas foram todas saqueadas. As portas estão arrombadas e as esculturas e decorações de gelo feitas em pedaços. De tempos a tempos, ouço-te gemer do lado de lá da porta. É assim: o coração da Torre está no centro, atrás da Parede Preta. Pus-te no dedo um anel de prata muito simples. O dia está a acabar. A tarde passa devagar... Das tuas mãos sai um perfume, rosado e bem cheiroso, que me bate em cheio na cara. Lá de cima caem flocos de neve, que ficam suspensos a meia altura e rodopiam em torno da tua forma coberta de pingentes de gelo. O Sol põe-se no horizonte e sopra uma nortada agreste.  A tua voz é liquido dourado com reflexos azuis. Tenho uma noite cheia de sonhos estranhos com castelos e torres de gelo no meio de uma planície gélida e sem sombra de vida. Acordo. Subo a escadaria e abro a porta. As paredes da sala estão tapadas de baixos-relevos e esculturas de uma qualidade impressionante. Colunas de gelo com veios de cores delicadas elevam-se em formas sinuosas até ao tecto; a um dos lados, vejo o que me parece ser um órgão. 


V

Fazes uma vénia e conduzes-me à câmara principal, depois, desapareces com as tuas vestimentas. Um pouco receoso, avanço para a luz. E na manhã seguinte também. Os cães começam a ganir e afastam-se da beira do planalto. Caminho quase todo o dia até ficar exausto e com os olhos a arder por causa dos reflexos do Sol na neve. De manhã, comes uma refeição e vais lá para fora esticar as pernas, olhando para o céu azul pulvilhado de nuvens. És como uma forma alada no céu, para sul. Salta à vista que roubaram tudo o que havia de valor no quarto. Um molho de chaves e a tua túnica é tudo o que resta. Ficámos a ver o alce pastar, todo satisfeito. De repente, sinto-me alto e com porte de rei. Mal o dia nasce, comes uma refeição e partes rumo a leste. Ao princípio da tarde, chegámos a uma escarpa plana, sobranceira a um grande vale. Lá ao longe pasta um rebanho de alces. O Sol brilha no azul pálido do céu, mas os seus raios são completamente desprovidos de calor. As tuas cores cintilam ao Sol de Inverno. É que há coisas ainda piores que a morte. A porta dá para lá da cela, onde jaz um homem algemado e acorrentado, ofereço-lhe um livro castanho com apenas cinco parágrafos. «Isto alegra-me o coração e dá-me forças!», diz baixinho. A tua túnica é a última a saltar no espaço. A beleza do cântico em coro polifónico, que soa à distância, é de cortar a respiração. Bem que gostaria de ficar ali a ouvir. Não se pode separar o livro castanho do Pássaro de Gelo, porque a lombada do livro está presa à pata do pássaro. Ao fim do dia encontrei o teu corpo na neve preso numa armadilha. Na altura ainda estavas quente. Ainda irradiavas uma luz tão intensa, que mal podia distinguir os traços do teu rosto bondoso e afável.


André Consciência

Silêncio das Espadas





Á luz azul prateada das espadas
As lâminas criavam pequenas ilhas
A  rapariga parecia pálida e feroz
Envolta em silêncio e couraçada de neve
O rapaz ardia com uma luz fria
Branca, vermelha, escura
Deram por si no meio da escuridão estrelada
No interior de um grupo de árvores
O luar cintilava, pálido
Sobre o toco no qual descansaram a cabeça
O musgo cobria-os de tal forma
Que antes não notara que a carne estava
Branca.

Entrei numa sala vazia e vi uma cadeira vazia.

O meio-dia arrasta um castelo que se debruça sobre o lago.


Horned Wolf

terça-feira, 17 de julho de 2012

Deserto




Cavalguei até de madrugada enquanto as estrelas olhavam para baixo como se fossem olhos, e os dias que vivi são tão incontáveis quanto as há no céu. Gostava de dormir no salão arruinado, sob a lua e sob as estrelas, apertava-me à pele de leão e sempre que regressava trazia uma nova canção. Gostava de penetrar um circulo no meu coração, ver as últimas luzes que desapareciam a ocidente e as tempestades que se enfureciam para norte, mas o peito estava acima das chuvas: não, não acima do vento, que se faz sentir como se alguém nos puxasse pelo manto: é que o coração, e isto é quanto mais alto é, está assombrado: olha para as profundezas das chamas como se nada mais existisse no mundo inteiro. Hoje, o cabelo cai-me às mãos-cheias, ninguém me beija há mil anos, e não gosto das chamas pois o carvalho sonha a bolota e a bolota sonha o carvalho e o fogo é tudo aquilo que separa a vida da vida. Puxei o capuz do manto para cima da cabeça, e encolhi-me, empapado e a tremer de calor, sem jamais esmorecer. Os cascos do cavalo faziam sons de sucção ao libertarem-se da lama. Cavalgava para Sul, a fim de defender um castelo vazio, uma aldeia queimada entregue ao archote anos atrás, casebres enegrecidos e sem telhados, ervas daninhas que me davam pela cintura.            


Horned Wolf 

Último Dia




A vida, com os seus comprimentos e pináculos, elevando-se sobre as pequenas grandes coisas. Quebramos correntes, destruímos a maldade e com ela a cor do olhar, o eixo das mãos fraternas, o amor intermitente da paixão intemporal, zangamo-nos com a perda, a traição, o afastamento, ficamos mais atentos e mais apáticos, tudo se torna cada vez mais gigante mas já não nos assustaria o maior gigante. Olha, como trilhamos o pó, como navegamos na espuma dos nossos sonhos à semelhança da brancura fugaz sobre as ondas. Hoje é o último dia, o vento sopra igual sobre o dourado do campo e o vermelho das folhas, a água sussurra nitidamente como quando eu era ainda um pequeno mago de ouvidos limpos. Mas olha, tudo o que eu fiz brilha. No último dia fica a gratidão e uma enorme saudade. Porque aqueles que se partilham nunca se zangam, o que se zanga é outra coisa, uma coisa que nunca venceu a vida mas que só a morte pode derrotar. É o último dia. Por favor. Seja o último dia.



André Consciência

Outono



Milhas de campos e pomares enegrecidos
Ribeiros cheios pelas chuvas do Outono
As noites fremiam com os uivos de lobos
A Donzela montava um salmão vermelho
Flutuava sobre o castelo na sua colina

Um punhado de cães selvagens
Três corvos levantaram voo
Cinco raparigas mergulharam
Na lagoa da nascente

O verde começou a regressar
Meia milha mais à frente.


Horned Wolf

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ruína em pé entre as ruínas

Thorton Oakley



Fora de tom o mundo gira, a inocência dói
As promessas apelam com cantos de mãe e caiem
Sem saber o que fazer os mares modificam-se.

As páginas mudam, mas eu não.
Todos os homens dormem em vão, porém
Nesta câmara e de pulmões cheios de água
Fito o espaço, e não chamo ninguém
E ninguém segue ninguém.


André Consciência

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Alaúde Revolto





Caminhava descalço e nu na neve, dedilhando o seu alaúde e enchendo a noite com uma música estranha e selvagem. Tinha subido aos ermos e desolados colmilhos de gelo em busca de uma canção terrível o suficiente para derrubar a muralha que separa o mundo do mundo.  O vento estava a soprar neve para os seus olhos. Viu o cavalo morto, estatelado no sopé do monte, meio enterrado na brancura espessa. Viu os outros, todos os outros, com as extremidades retorcidas de um modo grotesco e os olhos cegos fixos na morte, os corvos a esvoaçar de um para o outro. Virara-se ao ouvir o súbito som de asas. Que a pedra o lembrasse, ao último dos homens, ao pai do primeiro silêncio.


Horned Wolf