quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sereia

A tua pele, luar com mar,
Esmeralda com azul;
O meu intelecto perde-se
No teu braço.

Sem dor, separação, perda
Os nossos relógios acabaram.

As luzes da cidade
Com fogos secretos
Sentei-me na janela,
A contemplar.

Quando a água evapora
Há mestres que se sentem sós.
Mas até à tua pele
Os seus passos hão-de ser
Salpicados e espumosos
O seus mantos cheirando
A mar.


André Consciência

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A Recollection



I

As ruas eram escuras


Como sombras de homens no fogo.

II


Um clarão, flutuava como um Sol cicatrizado e meio comido, por alguém sobre ele sentado.

Tinha mãos rasgadas e escurecidas, mãos de trapo, o corpo era meio sangue manchado meio transparência, 
a cara era pálida, os cabelos longos, uma cartola escondia-lhe os olhos, e a boca um corte pequeno. Era um 
homem mas usava uma espécie de saias de árvore descascada ou talvez de rede de pesca. Era uma veste descosida, como a sua barriga. No peito, seguindo a linha da coluna afiguravam-se quatro circulares fendas, como que corações esvaziados. Desenhado nas paredes vandalizadas, estava um Arcanjo atrofiado, na lua rachado, e que à Lua mesma havia quebrado. Por isso o olhei, mudamente, porque é com mudez que se fita a morte. Com um sorriso, pela sorte. "Olá."


A sua voz tremia e era ao mesmo tempo tão sólida e fria como a sua branca cara de manequim. "Veste-te de mim." Pediu. Mudo mais o fitei. "Se te for o Sol golpeado, sobre ele senta-te, deixa-o meio ofuscado, talvez possas sufoca-lo, nas trevas sobreviver, uma luz ferida faz-te morrer. Veste-me, saberás como sofrer." Voltou a falar. Pareceu olhar-me embora nunca lhe visse eu os olhos, podia contar o quão frios e sofridos se mostravam. A sua boca na qual só se via escuridão, voltou a ligeiramente abrir-se. "A tua semente. A tua semente, porque raro é já quem me vê, quando passa por aqui, sem saber porquê." 

Mostrou-me visões, de pessoas e futuros, e futuros clarões, dias puros, amizades, amor e resplendor.

E disse: "Todos estes virão em seu calor, e tu a todos negarás e escurecerás." E vi a minha gémea alma 
aterrorizada caminhar em ruas tão escuras, tão pesadamente calmas quanto estas em que 

me descobria. 

Após uma 


Pausa abismal, continuei. 

"Estas ruas são as minhas mais exaltadas amantes, e as mais calmas e perseverantes. Com elas rio e danço, e elas nunca riem, jamais dançam. A cada passo de dança desvaneço, mas num louco riso,

por elas cresço. Não há estrelas, e com elas danço. Não há Sol, e com ele avanço. O acto de amor, são estas 
palavras, 
e os seus venenos, 
como tu, tu 
que a cada noite aqui ficas e ninguém te vê, 
mas eu, e fujo, sabendo que 
daqui, como foi assim para ti, não há retorno." Quando virei as costas, senti a sua decadência dar-me a mão, como se quisesse seguir-me, mas não se pudesse soltar daquele devorado clarão. E emagrecia, apodrecia e 
sentia-lhe a definhação. 


III

Na próxima curva então, abriu-se um castanho poeirento nevão, sobre mim pairou uma ornada prostituta, de carne escura e enrugada, cara de bode e cabelo de branca palha, luvas de trapo, e nos pés uma qualquer falha, que não haviam, com a sua volumosa cauda se confundiam. As suas curtas roupas a vidro quebrado se assemelhavam, e guiou-me mais à frente, onde uma fenda na parede, tinha uma luz pálida e indiferente, para mostrar o seu corpo à espera nu e fervente. A parede para lá desse recôndito mostrava-se descascada, e a luz meio suada. Já perto, parei, mas não entrei. 

"Ajuda-me a descender." Tinha uma voz rouca e rasgada, agonizada por querer-se não tão abismal, e causava mais ardor a pena, que a sua feissima sedução. Aproximei-me, e tomei-a nos braços. À sua vagina dirigia-me a boca. Soltei o meu fogo a corpo aquele, e numa explosão ele fez-se rebelde. "Pois tudo o mais se mostra cadente." E quando terminei a primeira vez, pediu-me "Volta sempre." Não paguei. Quando voltei, não havia ali mais nada. E ouvi a voz e de novo o nevão, e ela não mais ali estava para mim, de corpo no chão. Ia-me dizendo: "Não cairás agora da graça?" E senti-lhe no coração o bater de uma asa podre, em que se retirava criando-me cada vez mais. Tentei mais fundo, mais fundo me afundar, como se para procurar o segredo que a fizesse voltar. "Preciso-te incompleto." E nunca mais a encontrou, por mais que o meu coração escavou. 


IV

Na próxima curva, os prédios soltavam-se e afastavam-se, encontrei no escuro, um cais de cristal. A Lua 
mostrava-se, e uma sua criação aproximava-se. De corpo nu, um corpo prateado escurecido, estendia o pescoço
e face ao vento inexistido, 
em que o seu longo escuro cabelo, voava, 
mais triste que contente, mas celebrando 
uma mais noite morrente. 

Os seus saltos altos de cristal romperem-me o coração, 
como se tentasse a luz do dia curar as cicatrizes de Lua Cheia e em vez as estalasse, mais dolorosa as 

provocasse.

Da escuridão tão funda ela ergueu-me, só para a luz lunar nos ambos povoar. Ela tinha esperança que ela nos fosse misturar, numa estratégia de aranha, me caçar. "Vim-te ensinar, se queres ao teu coração povoar, com tão sublimes ruas quanto estas, que não possam mais voar na luz da vida, mas na escuridão se aprisionar, e não percas, não vão, pois pesar vão, neste cristal que te impus no coração, farás tua teia, prenderás o que, daquilo que queres, te rodeia." E no momento em que ela, à luz da Lua, desapareceu, eu senti que a luz sua, apesar de escura, roubaria a noite. Viver que nunca acabava, mas todos a caçavam noite fora, ninguem a encontrava. E eu que, por estas ruas, a encontrei, não me ensinara qualquer bem.


V

Quanto mais
pessimista, mais eu era instigado, a poder mover-me de novo, 
uma vontade de ser re derrotado. O coração já
completado. 

E quando a voltei a 
encontrar num fundo abissal, ela era só uma cicatriz nos meus lábios cortados e no meu corpo roubado, e
perdoei-lhe tudo. E esse fogo andante, se olhasse para traz puxar-me queria,
através de todas as mentiras que mantinham as ruas, e a ausência de qualquer dia. Por isso nunca olhei, nem 

nunca

resisti. Estas résteas de beleza aqui ganham tristeza, se no mundo da clareza.  
Rastejando lá fui, e encotrei-a, vestindo o Diabo: Uma luz tremeluzente, trémula, febril, fluente.
Um ardente tridente. Esta estranha existência, outro devaneio, outra demência. Uma outra amante sem 
qualquer reverência. Espalhou o veneno nas mãos, esfregou o corpo, aproximou-se um pouco, puxou-me, 

um 
louco, 

E a quietude abraçou-me dentro da tempestade. O auge.


VI

Era um fantasma de latão, cuja casa ficava à grande janela de uma escura e abandonada catedral, um fantasma, que flutuava à luz do vitral, cinzenta, branca, azul e vermelha. Um fantasma com um antigo gira discos, de latão, as colunas como trompas, a manivela, e quem a rodava, uma mão, como boca que sangrava, e dele acima, uma mão que à sua cabeça se encostava, e uma carrancuda ferida cara, que horrenda, o amaldiçoava. Como

Deus, 

Como a mais maldita fada. Uma simples, simples cartola. Uma lágrima, lágrimas luz, que cortavam olhos fora. Usava pêra e nunca abriu a sua boca, estava seca, golpeada, e tosca. Girava a manivela e me revela:
"Quereis saber o que fora no mundo se faz? Dividas de sangue, não tem banco, ninguém as olha, não são pagas. 
Os corações são delas os guardiões, e todas, vigilancias vãs e vagas. Celebram-se os estranhos. Quando se fazem
mais, mais que estranhos, não se pagam as dividas sanguíneas, celebram-se os estranhos." E ali sempre chovia. Girava a manivela e me revela: "Quereis saber o que dentro se passa? Respostas são mentidas, desmentidas, e levam demasiado longe. Para o escuro

onde só ha nada." 

Essa mão e essa cara
Protegiam-no e magoavam. E dos vitrais via-se manhã, 
E vi então que aquela cara na cartola, na janela,
era jamais a mesma. Ele dizia quem era, era jamais a mesma. 


VII

Vi agora no seu peito múltiplos cortes, e uma mão sombria que das costas lhe rompia, e na Lua se prendia. Uma só asa de borboleta, o entendia, uma só, decepada ou então esquecida. Frente a isto acendi velas e
vivi a vida eterna, tão lenta corria ela, num espectáculo de lamentos, sempre igual, sem mais verdadeiros 
momentos. Frios eternos beijos, frios, e no fim só a beleza do frio é. Na verdade não saira dali, deixava as velas arder e as estacas. 


VIII

Foi então que continuando, encontrei uma rua sem saída, e para o escuro continuando, encontrei uma outra rua escondida. Ali havia um porto, agua, e um Sol quase que morto, nos seus raios segurava espinhos e a ouriço se assemelhava. Por ali a prostituta que em tempos conhecera, se agora aproximava. Tinha desta ela asas, rasgadas e definhadas, mas voava, e nas pernas crescido haviam-lhe duas grandes garras. Seguindo-a vinha um barco que dali talvez me levasse. Abraçamo-nos e a sua pele era como que pó, que eu inundei e habitei. Ardeu com ela, no vermelho por do Sol. Nesse barco partimos, e juntos naufragamos.


IX

Dormi, dormi como um menino nos braços do mar tão tribulado, revirado, irado e exaltado. Na costa acordei, era tudo negro, foi sem mais Sol que acordei. Havia um castelo e duas torres, que deixavam passar a luz da Lua por duas janelas em arco. Como se dentro ali prendessem o astro, porque cá fora, dele outro sinal, não havia. E uma mulher que da cintura abaixo era serpente, rastejou para a minha frente. A cara era toda ela tão delicada e deliciosa, mas os olhos vendados e decepados, e de espinhos tinha as mãos e costas cercadas. "Toda a vida falha,", falou, e parecia querer confortar embora ríspida e gelada, "excepto na sua própria falha. Toda ela, como a conheces, falha. Todos os lábios que provaste já, puros fantasmas. Sempre fantasmas. Enamoraste fantasmas. Tudo o que já encontraste, fantasmas." E no cristal que me fora em tempos ensinado, tudo ali, atribulado, prendi. E nesse momento, nas estrelas inexistentes me sentei, e quando acordei, eu era o homem, esse homem que primeiro encontrei, sentado num meio-devorado clarão. 


André Consciência
26/01/03

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Solstício de Inverno



















A chuva caia sem cessar
Pingava das árvores
Para aumentar a tristeza.

Ás quatro horas da manhã ajoelhou,
Beijou uma pena da asa do Arcanjo São Gabriel.

De madrugada, o monte estava vazio
O moinho, com as suas velas de linho
Dobradas e amarradas, rangia ao vento
Que fazia ondular a erva alta.

Uma vez estive contigo neste moinho.
Montei-te, para olhar para nascente.

Uma estrada vazia em direcção a anjos
Que bebiam inúmeros homens.

Há coisa nenhuma a gozar o ar da manhã
E eu não consigo abatê-la:
Rebentos de trigo e cevada
Condenados a morrer no Inverno.


André Consciência

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Iluminado por dois Archotes




A outra madrugada separou-os
Avistaram o horizonte no fumo
E partiram.

Sorriu.
O silêncio quebrou-a.

Com a pele a brilhar por cima da margem
Uma lontra deslizou da outra água.

Ergueu o focinho, olhou um momento
Para mim
E mergulhou de novo.

O céu ainda não estava completamente escuro
Tinha um tom luminoso como a chama de uma vela
Por trás de uma placa de osso.

Sentaram-se junto ao ribeiro.

Separaram-se na outra madrugada.

Um atalho conduzia à morte através da charneca
De tomilhos no perfume, sobre a qual
Esvoaçava o azul das borboletas.

 O fumo cavalgou na minha direcção.


Horned Wolf

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Os dias nunca mais acabam


Vista do Castelo de Palmela


Aproximou-se da porta branca do terraço, com o estuque carcomido e o quarto sempre na escuridão. O cigarro queimava, algo lânguido, uma mortalha branca. Além um mar de luzes trémulas na penumbra verde e terrena, alongando-se por Palmela até ao castelo no topo do monte ao fundo nocturno do horizonte. Pela sua mente em vácuo passaram muitas vivências imortais que ali haviam tomado lugar, algumas sob o abrigo feliz e vibrante do dia e várias sob a eternidade protectora das horas tardias. A vida repleta de coisas, por si próprias, sem fim, como um milagre estonteante, mas os dias não haviam modo de acabar e instalar a paz numa só delas.


André Consciência

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Um Choro Distante




Ouvias as cotovias, o grito das tarambolas e o múrmurio do vento por entre as árvores. Caiu um pingo de chuva, espalhando-se na tua pele, mas foi apenas uma gota solitária, pertencendo a um aguaceiro que se afastava para Ocidente. O teu rosto ficava perto do rio e da janela da tua casa podia ver-se agua a correr sob os arcos da ponte. Os morcegos esvoaçavam em volta do teu vulto enrolado e semi-adormecido, enquanto que as casas para além do rio estavam iluminadas por um intenso quarto crescente.


André Consciência

sábado, 10 de dezembro de 2011

Fechou os Olhos




Os sinos tocavam com demasiada força
Os homens que puxavam as cordas tentavam
Repelir o assalto por si próprios.

Avançavam pela lama e metiam-se por entre as
Estacas partidas, como se fossem
Ratos.

Arrancou as roupas, depois voltou-se,
Quando ouviu vozes.

Um rio negro com pregos de aço corria
Em direcção ao centro da cidade.

Uma mulher gritou na rua,
Depois outra,
E vozes inglesas aplaudiam

Um a um, calavam-se
Os sinos,
A dobrar o seu terror
Sobre os telhados,
Os passos batiam na escada.

As gaivotas alimentaram-se dos olhos
Dos mortos e picaram-lhes a carne,
Restando apenas ossos ocos
A olharem as ondas.


André Consciência

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Malak III


Sphinx - Franz von Stuck


Tinha trinta anos, peito largo e queimado do Sol. O mercador de prata e mulheres vivia numa bela casa de pedra. Era a noite antes da Páscoa e rezou a São Jorge, enquanto numa das suas câmaras seladas, a juvenil beldade de cabelo branco, cuja pele era albina e os olhos arredondavam cegos, dançava na escuridão, assustada pelas megeras que gritavam no monte enquanto as ondas intermináveis se lançavam e sugavam as pedras.

Uma luz cinzenta entrava pela janela, sob o altar coberto.


André Consciência

Malak II



Corria para o mar junto a uma praia coberta de pequenos calhaus. Barcos de pesca partiam do meu peito. Uma língua de seixos contornava o meu último braço. Mesmo assim, o mar rugira sobre mim e desfizera os barcos.

O padre poderia ter sido bispo mas persegui-o com sonhos, estivera fechado na cela de um mosteiro devido a possessão demoníaca. Os demónios abandonaram-no e foi enviado para a aldeia, onde aterrorizava os seus habitantes pregando às gaivotas e chorando os pecados junto à costa, eu batia-lhe no peito com pedras aguçadas. Uivava como uma cadela, em noites em que a maldade pesava a consciência. Caminhava só, com o rosto severo, o cabelo desgrenhado e os olhos a brilhar.

Porém, naquela noite, depois do pôr do sol, durante a vigília, apenas quatro acólitos observavam as minhas chamas enormes e firmes. Um escutou o ressonar dos três companheiros e limitou-se a olhar para mim, semi-obscurecido por uma rede de pesca pendurada a secar. Uma corrente de ar frio fez reluzir as minhas chamas gémeas. Algures na aldeia, um cão uivava. Olhava para mim no tecto da igreja e rezava.

Macio e forte, o ventre liso
De uma rapariga.

Naquela noite, recordou-se dela
Que servia na pequena taberna da aldeia.

E do anjo, primeiro visto sobre os telhados:
Tinha comido numa só noite todo um bando
De gansos.


André Consciência

Malak


Sem Título - Ove Tøpfer

Assim, durante oito anos, fiquei suspenso na pequena igreja, acumulando pó e teias de aranha que cintilavam com reflexos prateados quando o sol entrava pela janela alta da torre poente. Os pardais pousavam no meu tronco e em algumas manhãs havia morcegos pendurados nas minhas coxas. Raramente me movia e quase nunca descia, embora, de vez em quando, o padre exigisse que lhe trouxessem a escada e me soltassem das minhas correntes, de modo a poder orar junto a ele, enquanto o afagava.


André Consciência

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Subhuman


Afterglow - Sem Título


O ar quente cheirava os fabricantes de carvão
Com pirliteiro e fumo.

A floresta tinha atravessado os filhos
As crianças corriam aos gritos pelas escadas
Estreitas; Onde é
O Caminho do Céu?

O Sol atrairá-nos para o exterior
Do outro Sol. Estávamos num campo
Perto de casa.

As pastagens combinavam passeios
Com os bosques; Onde é
O Caminho do Céu?

Num pedaço de terra horizontal,
A sua figura arredondava-se e as suas feições
Começavam a ganhar uma frescura
Que faziam adivinhar uma beleza; Onde é
O Caminho do Céu?

Com o cabelo escuro a ondular atrás de si
A erva, sob os seus pés, estava cheia de flores
Silvestres; Onde é
O Caminho do Céu?

Apoiado nos cotovelos, semicerrava os olhos
Por causa do Sol; Onde é
O Caminho do Céu?

Mais abaixo, os cães tinham enlouquecido.
Um anjo farejou-me as saias, olhou em volta
E depois aliviou-se contra a parede.
Eu limpo - disse eu à pressa. Um belo anjo
Ainda, era, virgem...

Levei-o lá para fora e ensinei-o a ter necessidades
Num sitio quente. A lua apareceu no nosso quarto
Bordando cinco raparigas a dançar em fila.
Naquele momento estava deitada na escuridão
A imaginar a mão dele a tirar-me os cabelos.

Onde é
O Caminho do Céu?


Horned Wolf

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

...

Não há nenhuma rua
As cadelas soltam um piar lento
Um dia vou escrever sobre ti

Todos aqueles que me largaram

Pára, vê a praça a crescer
Alimentam-se de ti, quando bebem cafés

Um dia pensei que te tinha tido
Não olhes agora para as mãos
Observa o fim das metas
Ninguém está nelas
Excepto o fogo que te separa
Não és um anjo

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Tocador de Tulum




Quatro remadores em terra
Esperaram que nós encontrássemos
Um caminho.

A água ali tinha apenas uma
Fina língua de água.

As árvores chegavam quase
Ao alto.

Estávamos quase
A desistir.

A enseada subira um pouco
E gritou
Um zimbro a rastejar
Pelo solo pedregoso

Com a tenacidade de uma mulher
Madura.

Fragmentos de roupa, tranças,
Fivelas sem brilho.

A folhagem e depois um minúsculo regato
A correr por entre as pernas
Antes de se precipitar no mar.

Já era tarde
Coníferas de solo lamacento
Primavera chuvosa
Sempre que parámos para avaliar
O nosso progresso

A luz estava a desaparecer
E com ela
Os últimos vestígios de calor no ar.


Horned Wolf