quinta-feira, 28 de abril de 2011

Promises in the Light


Promises in the Light - Horned Wolf

sábado, 23 de abril de 2011

O Horror dos Templos II


A Destruição do Templo de Jerusalém - Francesco Hayes


O Rio Vermelho
E os campos cultivados para lá
Preenchem-se ao anoitecer
De homens a envelhcer
Onde se entrelaçam as raizes e os ramos
Todas as criaturas morrem no sono
Todas as almas sem corpo
Falam a mesma lingua
As pontas dos seus dedos
A individuar-se nos archotes acesos.

Leitor, o meu corvo guiar-te-à
Até ao rio Peixe
Onde veleiros a Sul alcançam barcaças
Com a marca do Porto da Areia
Negra.

O meu corvo crocita e afasta-se
O arrepio na tua espinha atravessa
O capim alto.

Fumo a Leste, as tripulações alheias
Continuam a descarregar mercadoria.
Setas em chamas com carapuças e capotes
Ardem cabanas.

O tempo da areia engole o pobre homem
Morto pelos duendes.

Olhando para o céu
Vemos voar na nossa direcção
A infinidade estelar
De astros que não podemos identificar,
Á medida que se aproxima
Reparamos que o grande espaço sideral
Tem corpo de abutre e cabeça de mulher,
Lança gritos estridentes que rasgam
Camisas.

Os homens dormem em buracos de areia seca
Quando acordam.

Da areia ressequida jorram ondas
De calor.


Horned Wolf

A Insolência das Janelas - performance poética (por André Consciência)



Sábado, 21 de Maio · 21:00 - 22:00
Castelo de Asgard
Rua Tomé de Barros Queirós, 29 B
Sintra





"Por dentro da janela, a água forma horas e salas de jantar
E fizeram praças nos locais inatingíveis"


Poesia de André Consciência interpretada pelo autor e acompanhada pelas atmosferas sonoras de Babalith, produzidas em exclusivo para o evento. O acto será acompanhado por uma exposição de Cláudio Carvalho e da sua gravação ao vivo nascerá o novo álbum de Babalith.


Valor da inscrição: 5,00 €

Inscrições no local, através do telefone 219 234 257 ou por email:
castelodeasgard@gmail.com ou abismohumano@gmail.com

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Horror dos Templos

Duende Negro - J. Velasco


Uma alcateia de mães uiva
Em redor da cabana em que nasce
A Lua-Cheia.

Duendes, ao cuidado da negritude
Das florestas, obrigando animais murchar
Com a penetração do olhar.

No Deserto das Caveiras
Os dragões da dissolução
Alimentam inconsciências.

A sua ciência tenebrosa:
A passagem da morte semeia cidades
E destrói o caos.

Um langor passa por mim, pois sinto-me anão,
Afio a espada e passo os pés pela balaustrada,
No largo da aldeia, todos fitam o céu onde

Os corvos escutam os duendes a passarem-se
Por Pedras.


Horned Wolf

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Viagens Marítimas (fragmento final)

Sea Piece by Moonlight - Casper David Friedrich


XVIII

Milhares de peixes de cores vivas vagueiam
Por entre os ramos de corais brancos.
Beleza extraordinária, riso cristalino
Duendes da água salpicados de pequenas escamas
Douradas.

Uma taça gigantesca, talhada na
Rocha.

O grande bico abre e fecha.


XIX

O focinho comprido
Do peixe-broca
Ostenta as formas
Do saca-rolhas.

O seu gosto consiste
Em ser engolido
Insistentemente
Por variados polvos.


XX

No interior do enorme crustáceo,
Por cima de mim,
O oceano adquire uma tonalidade vermelho-sangue.

Ancorado numa pequena enseada,
O casco do navio pirata.

Se fores um homem de gosto
Abre o fundo do navio com algumas pancadas
E sacia-te comendo a tripulação.

Depois, junta todo o ouro numa pilha,
Fica quieto, e escuta uma voz profunda
Clamar por ti.


XXI

Empoleirado nas cristas, avistamos as luzes, o Porto
Da Areia Preta, cintilando no crepúsculo.

As guelras desvanecem-se numa ilha
Deserta e às escuras.


Horned Wolf

Viagens Marítimas (terceiro fragmento)

Holy Island, Scotland - Kevin Temple


XII

Magos
Moveram-se para o oleado interior
Do Pacífico.


XIII

Vê-se
Uma película cintilante
Um formigueiro que atravessa
Todas as barreiras.

O Tritão, à porta
Arregala ainda mais
Os olhos.

Corta o Peixe-Serra
Que aumenta de tamanho
Com a faca da bancada.


XIV

O Peixe-Broca, o Peixe-Machado,
E o Peixe-Brilho, com uma luz azul
No alto da cabeça.

Estranho espaço de areia limpa
A arena é ao mesmo tempo uma saída
Para o exterior.

Poisada, muito direita
A caveira humana vomita
Musgo: uma voz
Dentro da tua cabeça
Remexe a água luminosa:
Vaga forma humana
Capitão da marinha, morto
Pela amotinada traição.

Ossos espalhados e comidos por fauna.


XV

As criaturas das profundezas permitem-vos a paz
Enquanto lêem: Urnas entaladas entre rochas e cobertas
Com verdete.

Escadarias de mármore e grandes portões de bronze
Corroído.

Escancarado, lá dentro, enorme e gordo
O escorpião. Corais sólidos e cinzentos, criptas de pedra
A parir estátuas, nobres figuras humanas,
Altivas feições de peixe, onde escrevo inscrições
Desconhecidas, coroas de jade verde
Com golfinhos encadeados uns nos outros.

O Oceano:
Uma voz tão profunda como a vibração dos ossos.


XVI

Um remoinho para a escuridão
Luz fraca sob o abismo escuro
A sala está iluminada a vermelho
Velha e murcha, a bruxa-do-mar
Toma banhos-de-vapor,
Um ajuntamento de Tritões em seu redor.

Eu, o poeta, sento-me numa mesa tosca
Cá fora, as grandes mãos escrevem
Com membranas estendidas,
Num anel de latão esverdeado
Em forma de espiral.


XVII

Na área rochosa e funda no mar
Existe um edifício, de tijolo,
Rodeado de seixos cobertos de algas,
É habitado por enormes caranguejos
Comidos em permanência por minúsculos
Parasitas.


Horned Wolf

terça-feira, 5 de abril de 2011

Viagens Marítimas (segundo fragmento)

Procession of Spores - Martin Madsen

VI

Plantas aquáticas deitam a dormir luz escorregadia
Túneis de áspera rocha inclinam-se, sem fim,
Com a suavidade do pescoço das bailarinas,
Todas as portas pesadas dão para penhascos
De parede, salpicados de grutas, anémonas,
Protuberâncias.

Não podes cair, suspenso na água
E transparente.


VII

A moreia estremece e morre
Vagarosa pela água
Os seus dentes de agulha
Ondeando na corrente.

Passa, sobre o jardim
Um galeão afundado
Um palácio de cúpulas
Sem cobertura.


VIII

No palácio bóiam uniformes,
Cores de jóia, membranas e dedos,
Pele que encarquilhou.

O musgo marinho interessa-se
Por todas as curiosidades,
De si saem cortesãos sumptuosamente
Vestidos, salões de audiências,
E um inchado Peixes-Rei
Que ao pronunciar-se
De respiração saliente
Com dificuldade olha.

A bela adormecida no topo
Tem que nenhum fidalgo
A possa despertar.


IX

A princesa jaz perpendicular
Num fofo leito de musgo
As pérolas parecem olhos
O jade lembra a pele
As algas trepadeiras, dedos.

Acotovelam-se cortesãos.


X

Farrapos de pé, mastros
Flutuando na corrente
Penumbras repentinas
Ostras amontoadas
Por aranhas-do-mar
Paredes derrubadas
Pelas linhas do barco.


XI

Os jardins submarinos têm portões de ferro
Que não aceitam ferrugem,
As árvores nascem peixes coloridos
Em vez de pássaros.
A pouco e pouco, jardim-floresta,
Rugido repetido e à escuta,
Do peixe-leão,
Vivendas de vulgar aspecto
Fazem-se rodear por arco-íris.

Entre arbustos, um gato.


Horned Wolf

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Viagens Marítimas




I

A bordo de navios, veleiros, barcos de guerra,
Carcaças ao lume, vagabundo das experiências salgadas,
Com a calmaria absoluta das tempestades dentro
Da pele, perdia-se a conta das criaturas que degolara.

Igual a um Peixe-Sol na areia preta do oceano, desfraldado,
Rapina marinha, salta a amurada.
O sabre descose a carne, a cavilha de ferro é uma bailarina
No miasma da noite, e assim como pastam as chamas
As águas profundas deleitam-se nos cadáveres,
E só a brisa é refúgio dos piratas.

Rios grosseiros amarrados ao mastro, casacas
Um dia elegantes, homens debaixo da quilha,
Na bandeira, iscos, pão preto, carne e sal.


II

Peixes corrosivos ganham cor
Verde-mar
O oceano não é profundo,
E há recifes de espirais de coral.

Pátios e algas, pés no fundo,
Pátios luminosos, bolhas
Uma estrela gigantesca,
A água fria e cordas nas mãos.

A garganta roça-se na espada polida
Á procura de se soltar.


III

Azulejos vermelhos, verdes,
Brilhantes e limpos por algas
O pátio invadido por restos
De corais.

Pedra cinzenta dos prédios
Um alto, conserva-se sobre os outros
E peixes que nunca foram peixes
Observam como anjos
De dentro das janelas.


IV

Sereias, de pingentes em forma de búzio
Nos vitrais da nossa catedral,
Ao anoitecer, respirar debaixo da água,
Como quem canta.

Pérolas negras flutuam entre beijos
E as ondulações das caudas,
Escadarias, buracos escuros.


V

Leveza ágil, portas abertas à força
Daquilo que apodrece,
Moluscos prateados, silhuetas,
Do tamanho de homens delgados,
Homens só com olhos e dentes
E gulas dementes.

Moedas de ouro.


Horned Wolf

domingo, 3 de abril de 2011

Grace




While most of them walk the same road, I’d rather pick other ways to get there. Meanwhile, I’m presented with splendorous mountains, leafy valleys and peaceful rivers. Randomly, in between such pictures, I do find the road in which almost everybody marches. So I walk along and among some of them (couldn’t tell if in the right way) and maybe get to know one or two – is it possible to know someone really? Then…
The unstoppable quest restarts… it’s a chase all right. Yet…
You’re not the hunted, you’re not the hunter… as I’m neither the prey nor the predator; my best guess goes to my wish to fulfil curiosity. Things are what they are and like they are, so I’m grateful with what I get… everybody should be too. So I go back to my ways, my routes with mythical landscapes where your smile lit the sun, your hands hold leafs on the trees, your eyes shine on every rock and your glaze pulls the wind to blow.
With luck I’ll be there someday, where I can see you every time I look in the mirror…
Simply, I’ve never left this city.


Wolf – Music & Lyrics
Horned Wolf - Video & Art
The Poisonous I – Voice & Soul

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Abrahadabra

Dedicado à Marta Amado Ayahuasca - Babalith


Procuras uma habitação de ferro
Cria tu a tua força a partir do nada
E adora-a como sendo nada.

Ele aguarda em silêncio
A beleza primal, a força
E a vida. O intelecto brilha
Na sua fronte.

A sua mão levanta e toca o sino
No Abismo.


Horned Wolf

A Voz da Serpente

Ao blogue A Voz da Serpente no seu quinto aniversário
Miasma of Secretions - Babalith


I

Vede como é bela a sua cabeça em cascata
Uma mão globular com uma miríade invisível
De dedos ao Sol alegre das tempestades
Que o amor prende à delicadeza sua,
De mulher, a santidade um rio que bóia
Cantando o perfume das flores magoadas
Uma cor de céu a transmitir a Deusa.


II

Judeus, a cair dos pinheiros,
Dinheiro a escorregar das banhas
De um velho gordo
Asas recolhidas em abismos
Poças de sapo,
Homens de prudência tornados
Bandidos.


III

Um pedaço de tecto [abismo]
Num montículo de poeira à esquerda
Tu serás a minha lápide de terra
Esquece-me e solta-me
Uma estrela reparada por amantes
Nesse quarto inacabado
E eu adormecerei na tua campa dourada.


IV

Mortos, a tropeçar tempo adentro
Sobre os ossos da noite,
Colocam-se no altar
Da razão juíza
Os meus olhos expandem-se
Para lá da preocupação
No fogo aéreo
E sem desejo
Amanheço.


V

O silêncio do país desejado
A dormir quieto, de chuva branda,
As casas, ali, engoliram
Os jogos.

As árvores desceram, com seus ramos
E raízes, os corpos húmidos das crianças.
O sossego abateu os pássaros.

As ardósias retiram as dobras
Que restam à noite, fazendo-a
Lisa, abençoam o mal para criar
Caminhos, terra seca e água.


Horned Wolf