quarta-feira, 31 de março de 2010

Vati Cano

Dedicado ao Goldmundo


Abismo do Pecado - Jana Vieras


Talvez não gostassem de acreditar, porque vou explicar como vi a Cidade Santa sob a insígnia de Roma Católica Apostólica. É ela a cidade da toca da aranha. Há duas montanhas cegas que rodeiam o abismo, e que situam a cidade no fundo do vácuo, ligada à superfície por mil cordas grossas muito penosas de subir, atadas entre si, numa rede que vai servindo como telhado à povoação. Caminha-se na escuridão, com os cuidados de não enfiar o pé numa qualquer fenda, e agarrado a um círio. Por cima há tudo, estendido por milhões de quilómetros, mas apenas vemos o céu e no céu o todo, uma e outra nuvem. Entrevê-se, ainda mais acima do Todo, Deus: este é o verdadeiro telhado da cidade, e não oferece passagem nem apoio.
As casas, em vez de se erguerem na vertical, são escavadas para dentro da terra, de forma a dar maior altura ao céu. As paredes formam escadas de pedra, grutas, miradouros sobre os rios subterrâneos com barcos semelhantes a caves, nascentes de água, fogos-fátuos, e homens que, perto de serem invisuais, aquecem a sopa de cupins subterrâneos ao lume. Mais afastada pode-se descobrir uma linha de faunos de carga que carregam blocos de pó para os duches. Há vasos com minerais e plantas subterrâneas para decoração, altares e candelabros para oração.
Coberta pelo precipício, a vida na Cidade Santa é mais segura do que noutras cidades. Sabem, em cada momento, que a rede de cordas não aguenta o céu.


Horned Wolf

sexta-feira, 26 de março de 2010

Enquanto Dormes



Os flocos pousam nos cedros, dois peitos de neve derretem um no outro. As estrelas aproximam-se, lentamente, dos teus movimentos. A noite sobe como uma carícia leve. Eu respiro.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Xochicuicatl

Bem vindo a Xochicuicatl, um espaço secreto em Xibalba dedicado à música.

Uma Curiosidade Sobre "Flesh for Lulu"

Nos "Flesh for Lulu", Rocco vem de Wasted Youth:

Rebecca's Room - Wasted Youth

Glenn Bishop foi para Under Two Flags:

Masks - Under Two Flags

E foi substituido por Kevin Mills dos Specimen:

Hex 12' - Specimen

Nick Marsh está agora no projecto Urban Voodoo Machine:



Desafio


Hyimn to the Morning Star - Sleepytime Gorilla Museum

O que é a Estrela da Manhã? Responde e desbloqueia o próximo Xochicuicatl.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Xochicuicatl

Bem vindo a Xochicuicatl, um espaço secreto em Xibalba dedicado à música.

Uma Curiosidade Sobre "Giardino Violetto"

A banda foi a primeira em Itália a ser publicada com Creative Commons.

Peguem o Danse Macabre. Itália produziu óptimo deathrock e óptimo darkwave.


Desafio


Postcards from Paradise - Flesh for Lulu

Em que filme que Brooks protagonizou foi popularizado o nome de "Lulu"? Coloca na caixa de comentários, e desbloquea o próximo post Xochicuicatl.

domingo, 14 de março de 2010

Xochicuicatl

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Uma Curiosidade Sobre "Le Vene di Lucretia"

"Le Vene di Lucretia" mostra influencias de "Madre del Vizio" e "Rozz Williams"


Amore Fede Speranza - Madre del Vizio


A Fire of Uncommon Velocity - Rozz Williams

Download do Album


Desafio


Litanie a Satana - Il Giardino Violetto

Quem escreveu Les Litanies de Satan? Coloca a resposta na caixa de comentários e desbloqueia o próximo Xochicuicatl.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Casa de Morcegos, Saúda os Senhores no Trono


Cotz'na

Fui deixado por morto na Casa de Morcegos. Não é verdade? Pois olhai bem para os meus destroços e do que são feitos, de que forma a lâmina dos focinhos quirópteros se enterra em mim. A questão a traduzi-lo põe-se: como posso ser inteiro se momentos vários da minha vivência inteiros são? Sou assim dividido e sendo dividido o sangue escorre. É fácil adormecer e deixar que os morcegos operem o seu milagre às escondidas da vigilância, mas eu deverei penetrar a minha Palavra viva na insónia eterna e sobreviver como testemunha. Mas os morcegos penetram até a Palavra, e a palavra fragmenta-se em várias nuvens de memória movediça. Tal como na morte, toda a minha vida passa na minha percepção, excepto que não com ordem e seguimento, não! Em vez, todas as lembranças guincham em simultâneo. Eu lembro-me. Sim. Recordo-me. Não! Talvez. E se. Vi que foi. Aqui e agora. Tantas vezes. E sempre que. Nunca mais. O eterno repetir da lentidão dos ponteiros. Ninguém agarra os ângulos, desfazemos-nos no tempo. Salteadores nas ameias do crepúsculo. Vagar humano. Velocidade felina. Tudo se calou para sempre. E isso não se cala. Caramba! Sh… Os pardais nunca foram pardais. O nome destes morcegos é Legião. Calaram-se muito. Não tenho cabeça. Espera, ainda tenho cabeça. Coça-me as costas. Fodia e quanto mais fodia mais me energizava. Não faz mal. O quanto podes. Mas nunca te deixes vir na rapariga errada ou envelheces 3 anos. Absurdo. De há um mês para cá, ganhei verrugas. A cantina com a mulher que me quer. Sh… Daquela vez apanhei uma enorme serpente a caminho do mosteiro abandonado, fiz com ela uma Oroboros que usei à cintura e no fim deixei-a em 8. Não sei quem, mas alguém a vandalizou. Desenterrou o ovo e a rosa. Mesmo assim ela está grávida. Espero que não faça um aborto. Se o fizer engravidará de novo. Fecha as portas caralho! Está a entrar uma bruma que ainda nos vai separar a todos. Quem é que está a gritar? Primeiro acordo os animais todos, naturalmente. Mas quando começo assim a floresta fica estarrecida em silêncio. Os outros dizem que me transformo numa serpente negra e muito alta. Alentejo. E Cabeço das Fraguas. Isso tudo já foi, não é? Fui apanhado a dormir em Marrocos. Estava lá aquele gajo cujo nome é o sussurro da respiração. É ASV. Parecia. Hehe. Já não sei o que fazer com ela se não pára de gemer. Tanta merda. Que rios são estes? Falésias. Rios. Portugal está entre a terra e o mar. Se quiseres falar com Ele, vai para lá. Morcegos no meu cabelo. Não vou quebrar a asana. A bófia tem rondado a gruta. Um dia ainda conto e decoro quantas árvores existem nesta serra sem usar um único número. Esse dia é hoje. Não importa quantas vezes me perco, o caminho de volta é perder-me. Mas quando volto trago as vozes de tudo por quanto passei. Ervas e rochas e areia. Essas vozes, sabes. Estás louco! Claro que estou. Vês aquele túnel? Estamos cá em cima, no segundo mosteiro. Vês aquele túnel? Pára de escrever e não cantes. Não pises as folhas e não dances. As 3 e picos a Lua põe-se exactamente em alinhamento com aquele túnel que desemboca a meio da parede. O que metes no altar é a tua sombra. Cala-te! Os telhados estão sempre a cair. Não sei como nunca morri. Os outros partem sempre a cabeça pelo menos. Sim! Ela! Ela! Como é que os olhos dela podem brilhar tanto?! Em Tróia. Morreu-te. Essa bruxa ruiva. Agora já é tarde para chorar, não achas? Os pombos em Faro são muito diferentes dos pombos em Lisboa, e há ainda os do Porto, que cantam Anathema perto da feira. Espera lá. Não, no Alentejo não há. O que há mais é rapinas. Mas vais conhece-las a todas. Dorme em cima desta pedra, é o que eu faço sempre. Não digas mais nada. Esses livros não eram para ti próprio. Por isso é que os tivemos de queimar. A Santa não se esquece de nada. A míuda se calhar nem era maior. Agora já foi apanhada. Quantos corpos de prostituta tem o teu corpo, virgem? Não sei quantas mais mulheres aguenta a chama. E homens. Vais ficar gordo. Cala-te! Já há muito tempo que estou perdido. Eles acham que eu invento estas histórias! Se soubessem ahah. Com quantos camelos se faz o Sol? Ups. Nada como o Salvador Dali. Os morcegos, já não se ouvia deles nem um piu. Saí da palavra, pus só a cabeça de fora da sua boca, e procurei verificar se era manhã. Um Morcego da Morte, com o chocalho de ossos e as órbitas pendentes, decapitou-me em voo tal como decapitaria o fruto do ramo. Mesmo sem cabeça, ainda ouço asas a roçarem. Mas é só isso.

Um Morte e Sete Morte levaram a minha cabeça. Ainda escuto e vislumbro, mas não com os órgãos da cabeça. Sempre pensei que se separassem a cabeça do meu corpo, a minha consciência se agarraria sobretudo à cabeça. Isto era mentira. Sem cabeça, porém, podia controlar todos os animais existentes na Grande Árvore dos Mundos. Pedi a cada um que trouxesse o seu alimento e o deixasse junto da minha carcaça viva. Acho que Morte Um e Morte Sete se riam, e acho que os outros Senhores estavam sérios e com receio. Finalmente encontrei o que queria, quando vi o meu próprio corpo através da cabeça Ornada de um Lobo, que vinha sendo trazida pela boca de uma fêmea de Coiote. Vejam, se não é Lúcifer, o Corção do Céu, que desce, o próprio para acender estes olhos. Um anjo entre os morcegos. Durante quatro dias o céu encheu-se de lama e a terra escureceu. Por fim o diabo incendiou o esterco, dando luz ao mundo e abrindo o céu para o azul do Sol. Por esta altura a cabeça do lobo e os seus chifres estava bem assente sobre os meus ombros. Vejo-me a mim próprio neste preparo e vendo-me neste preparo vejo-me a mim com corpo de lobo e cabeça humana.

Reconheço, assim, ser os gémeos Ascendido e Descendido. Todos os senhores se riem e festejam. Pois no seu seio têm o meu corpo humano, vivo e derrotado. Como sempre fomos o conselheiro da Corte Abaixo da Superfície, ordeno que o meu eu seja sentado no trono em brasa e depois deitado ao rio. Restam-lhe cinzas. Estas cinzas criarão os primeiros peixes à superfície, e um dia serão homens e mulheres para governar com todos os poderes subterrâneos. Quanto a mim, os Gémeos, não temos nós os rostos de todos os bobos? Operámos milagres, ardemos as casas sem que elas ardessem, dançámos, matando-nos e ressuscitando-nos, e tanto deslumbrámos Morte Um que nos pediu que com ele o repetíssemos. Só o repetimos por metade, a primeira. Morte Sete pediu clemência. Não a obteve, porque tomámos as suas poltronas no Lugar da Esperança.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Casa de Fogo


K'ak'ma

Permaneço agora, compassadamente, na Casa de Fogo. Não existe muito a dizer sobre isto. Existe, no que respeita este tema, o fogo, e nada mais. Cá fora, este fogo arde de noite, de dia dormindo no interior, pois é o fogo das flores que se formam a partir do céu e que perdem o perfume nos artifícios, que vão usar essas quintêssencias, no aspecto decaído e consumível, como forja. Distingui a vinda do dia e sai. Entre os fantasmas, viram-me mover como um coiote e por isso tremeram, furaram os ouvidos, os braços, e colocaram os seus corações num vaso que me ofertaram. Mas o Morte Sete, não temendo, convidou-me ao trono em brasa. Perscrutei a Casa de Morcegos, não lhe agradando com resposta. Mas o Morte Um, não temendo, teceu esta questão: "Sobrevives à Casa de Fogo pela graça dos corações dos Jaguares. Porém, quem, em toda Árvore dos Mundos, és tu, que haveis dependurado os seus quatro corpos, esses quatro corpos dos primeiros entre os homens, já sem coração?" Eu respondendo: "Sou a Água da Beleza e devorei a ch'ul daquele jaguar cujas presas eram doçura, para conhecer o seu caminho. Sou a Queda de Água e devorei a ch'ul daquele jaguar cujas presas eram noite, para conhecer o seu caminho. Sou a Água das Araras e devorei a ch'ul daquele jaguar cujas presas eram Lua, para conhecer o seu caminho. Sou o Casa de Água e devorei a ch'ul do Diferenciado, de forma a compreender o caminho. Sou Qo'ahau e subi as Montanhas da Manhã para arrancar da Serpente Imperadora a insígnia da Realeza." Arrogância, pensaram Morte Um e Morte Sete, empurrando-me para a Casa de Morcegos.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sobre o Vento


Saudade - Sara Conde


Desta vez, a simplicidade
Da noite em branco, a história
De vida, o haver tudo passado
A viola miudinha e uma claridade
De casas em cinza.

Horned Wolf

terça-feira, 9 de março de 2010

Casa de Jaguares


Balam na


Por esta altura o povo de Xibalba e os seus senhores evitavam as pétalas cristalizadas na minha língua e o frio corpo de ossos que a cobria. Fiz-me mover até à Casa de Jaguares. Na porta, uma pintura de mulheres com serpentes no peito a caminhar sobre feras. Prostrei-me a um canto no interior, e descansando permiti os felinos gastarem a sua vitalidade nos meus ossos. De manhã, jaziam, ofegantes. Intacto, devorei, sem pressa, o coração de cada um. Senti a queimadura espalhar-se nos meus órgãos. Os meus olhos de água acolheram o fogo. E abandonando a casa os guardiões puseram-se em fuga, indagando-se sobre a minha origem.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Casa de Gelo


Cic na


Na terceira noite foram-me dadas roupas, sob o pretexto de vir a necessita-las. Conduziram-me à Casa de Gelo, cuja porta se fazia ver ornamentada por três corações de fogo esculpidos a gélido. No interior existia, em toda a câmara e provindo da solidez do frio, o mesmo brilho prateado que antes me sussurrara, mas que desta vez permaneceu em silêncio. Na primeira hora resisti com bravura, aquecendo o corpo por todos os meios. E ainda na segunda.

Na terceira hora o frio vencia-me o corpo trémulo. Despi as roupas, e aprofundei-me nessa hostil temperatura. Toda a vontade e todo o desejo haviam despertado, porque essas coisas é que movem o mundo cego, tendo em vista a sobrevivência dos que, porque vão morrer, pensam poder não vir jamais a morrer. Aprofundei-me no gelo. Deixei de querer, transcendi, e o corpo ganhou o silêncio das coisas congeladas. Encontrava-me a ser o amor que já preservava o universo ainda antes de se conceber: o magnetismo inesgotável que rodeia as coisas que derretem de encontro ao mundo visível: Os imortais, porque a morte já foram.

Não vou morrer, sei já ter morrido. Agora, toda a minha carne no interior dos meus ossos.

Casa de Lâminas


Ch'am


Na segunda noite dirigi-me por meu próprio intento à Casa de Lâminas, cuja entrada em madeira não possuía qualquer inscrição, excepto marcas de haverem existido inscrições depois raspadas. Sentei-me e, enquanto esperava, pela primeira vez desde a minha viagem ao Lugar do Medo, passei pelas brasas. De imediato isto veio chamar uma legião tremeluzente de escaravelhos que ostentavam, no lugar de mandíbulas, tortuosas lâminas. Não soube de outra forma de lidar com esta prova, excepto o que fiz: negociar que, não oferecendo resistência, levassem apenas a carne dos animais. Quero com isto dizer que devoraram somente a minha cauda e as minhas asas. Da minha cauda organizaram um tacho de pétalas encarnadas, e das asas um vaso de pétalas brancas. Um momento posterior, na minha língua fizeram família as pétalas amarelas, que espantaram os insectos ainda antes da manhã ser chegada.

sábado, 6 de março de 2010

Casa de Treva


Ak'ab na


De corações que comandandavam a minha derrota, os Senhores de Xibalba conduziram-me à porta encimada por três esféricas jóias roxas. Avançando pelo lusco-fusco transgredi a passagem. Visitou-me nada e nada poder ver. Depois uma luz prateada que se confundia com o negro estendeu-me alguns objectos, que pude apenas tactear, e fez-lo com a legendagem que se segue:

A Morte deu-me uma chama, eu a tocha e o cigarro oferto. Na treva, acenderás uma clareira. Vinda a aurora, devolverás a tocha e o cigarro ao vulto da morte.

Anui. E não usei a tocha ou o cigarro, para o efeito da luz, aceitei activamente a treva. Vista a negridão da sala, os guardiões pensaram haver concretizado a vitória. Na madrugada, devolvi os objectos. E não ofendendo a treva, não os desgastei nem me apaguei.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Xochicuicatl

Bem vindo a Xochicuicatl, um espaço secreto em Xibalba dedicado à música.


Uma Curiosidade Sobre "Crimson Muddle"

A líder de Crimson Muddle, Hellbore, provém de uma excelente banda chamada Deadchovsky, e ali figura nos teclados.


Le Frere Du Sandwichier - Deadchovsky


Desafio


Santa Violenta - Le Vene Di Lucretia

Quem é a Lucrécia? Desbloqueia o próximo post Xochicuicatl colocando a tua resposta na caixa de comentários.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Xochicuicatl

Bem vindo a Xochicuicatl, um espaço secreto em Xibalba dedicado à música.


Uma Curiosidade sobre "Seraphin Twin"

Em 1996 Brain Terry abandonou a banda para uma tourné extensiva com Dream Disciples (má troca, na minha opinião), dando assim um fim à banda, que conseguiu depois os últimos suspiros com a ajuda de Mark Elder tocando com Garden of Delight e Rosetta Stone em Londres.


Pray - Dream Disciples


Agony - Garden of Delight


Witch - Rosetta Stone


Desafio


La Rousalka - Crimson Muddle

Quem é Rusalka? Descobre e desbloqueias o Xochicuicatl seguinte.

SAÚDA OS SENHORES NO TRONO

Xibalba Mannequins Marca Hoje um Ano de Existência



“Senhor da doença e da dor, da morte e da destruição nas ruas e nos trilhos, da morte e da destruição através da aguardente, da morte e da destruição através da intoxicação, da morte e da destruição pelo vómito, da morte e da destruição pelo esforço e pela exaustão – apresenta-te, senta-te ante este Mundo de cemitério. E também o mestre da dor e do infortúnio, dos ferimentos por pistola e faca e vidro, apresenta-te, senta-te ante este Mundo de cemitério! E também o senhor do vómito e da indigestão, o senhor da febre e da disenteria, e também o senhor da malária e da tuberculose, do inchaço do abdómen (cancro), da gripe e da bronquite, e também o senhor de toda as doenças menores; e também o senhor da varíola, apresenta-te deste lado ante este montanhoso santuário do cemitério! Senta-te neste lugar, sejam quais forem as tuas manifestações; Olhai por nós aqui ante este Mundo. Sentai-vos, todos vós. Senhores, perdoai as minhas faltas.”
(Bunzel 1952, 390).


Sem que penetrasse a rua a Este, a rua a Este penetrou todas as outras e, por fim, tomou-me, que jazia ainda imóvel no centro, uma gárgula a guardar a aridez do deserto. Vi uma sala rodeada de exóticas e ornamentadas passagens para outras câmaras. Dispostos em tronos, por ordem de hierarquia, encontrei os senhores, e não mais havia nesta sala excepto um mastro no centro do tecto em que, chovendo rosas azuis, um coração se agitava. Abaixo, um rosto oval, de olho escarlate na testa e boca aberta em O, emanava o hálito dos silêncios mais antigos que o tempo. Eis o lugar da assembleia. Pensei sem a verbalização deste pensamento. Nudificado, deixei a pele abrir-se e estendi a consciência (o corpo) até ao primeiro Senhor, o leitor poderá compreender o que procurei fazer no tempo que se seguiu se, imagine-se, se focar no centro da sua mão, onde sentirá uma palpitação. De seguida que se sensibilize, digamos, no seu dedo do meio da sua mão esquerda, sem ignorar o resto do corpo, e com este, se force a roubar toda a vitalidade desse dedo que existe entre os outros quatro dedos. Sentirá de imediato, se não for um babuíno, uma dormência profunda nessa zona. Isto foi o que fiz ao primeiro senhor, o que fiz ao segundo, o que fiz ao terceiro, e depois o que fiz ao quarto. O quarto denota uma simples diferença, e que nada tem de extraordinário, dos outros três. Trata-se de um mistério dos sentidos já por todos conhecido. E se o leitor não se resumir ao chimpanzé (trata-se de mera expressão, pois os chimpanzés já o sabiam ainda o homem estava a aprender a ir à Lua), saberá que existe uma diferença vital bastante perceptiva entre a proximidade que estabelece a uma árvore e a um pedaço morto de madeira. O quarto senhor, era mais, pois, como uma árvore, e os três primeiros como manequins de madeira, a quem chamaram de Pai, de Filho, e de Espírito Santo.

Abri também eu uma boca invisível, em O. Arranquei-lhe, como o vendaval arrasa a resistência da floresta, o seu sangue. Escutei-lhe um lamento, e, sabendo que o lamento é o nome manifesto da coisa que lamenta, reconheci “Morte Uma”. Repeti o processo, identificando “Morte Sete”. Tinha agora ambos os senhores dos juízes, e que são o inicio e o fim, representando as húmidas ventosas do tempo e do vento. De seguida feri aquele Coberto de Crostas, Ferida Voadora, cujo ofício é adoecer toda a vida sobre a terra, permitindo as libações de sangue que amarram os demónios à obediência. Depois, o que Recolhe o Sangue, sempre que o chão o recebe, e o distribui aos Senhores, fundindo a mortalidade à eternidade dos mundos (criando o Sol e a Lua). A seguir, e obediente aos primeiros, o Demónio do Pus, servo da criação, e o Espírito Maligno, servo da acção. O domínio dos dois Senhores é derreter as formas dos homens e das mulheres que caminham na terra, sem o qual não poderia, neste momento, pica-los qual angélico mosquito. Depois, o Báculo de Osso e o Báculo de Caveira, cuja obra é retirar do homem sem forma todos os resquícios mortais, o que conseguem por agência da fome e pela ausência total das divindades.
Ainda, o Demónio dos Resíduos, e o Demónio da Punhalada, cujo labor é voltar a cobrir de imundície aqueles que, depois de orientados pelos prévios Senhores, cessam de velar pela sua própria essência. Esses arrastar-se-hão nas formas grosseiras até conseguirem retornar à morte através delas. Por sua vez, aqui trabalha o Senhor Asa, que administra o acidente e o acaso fatal, levando a liberdade caótica até ao vulto mais fixo, e o Inquerideira, que mede o caos pelas gravidades essenciais em relação com as gravidades periféricas, usando-as para assassinar. Os dois consomem os viandantes, como é caso do narrador, pela garganta e pelo peito, levando-os a misturar-se com os seus trajectos, desde que fora dos seus lares, por milagre da morte.
Assim, todos eles foram nomeados. E disse uma voz, cujo som se resumia a “ooooooooooooooooooooooooooooo”, “Saúda os senhores do trono”. Mas eu, sorri. E sorrindo ria-me deles. Eu que sou Tsuk’ te, a Árvore do Mundo, e o fruto de Tsuk’ te. E lembro-me do quadro de Francis Bacon, com todos estes senhores na raiz do corpo, o cérebro, pois o mundo, fora do espelho dos olhos, é do avesso. “Senta-te, ó voz! Eu que reconheço na vida a simples porta para a morte, na morte a simples transição para a vida! Eu, que desposei os femininos corpos despidos dos másculos e incorpóreos deuses da morte, e através dos seus corpos nasci, te digo que nenhum destes é um Senhor, e todos são manequins. Como a manequins que se desejam como eu os saúdo. Manhã, Morte Um! Manhã, Morte Sete.” A todos saudei. Fui então, depois de cada um se apresentar, convidado a sentar-me no trono acima de todos os outros tronos do Lugar do Medo e dos Fantasmas, porque os senhores de Xibalba invejam o conhecimento dos homens e não poderão desenvolver-se sem eles.
Sabendo que se tratava de um trono em brasa, o não fiz, antes tomando a palavra: “Eu, que sou Garras Sangrentas e Dentes Sangrentos; Eu, que desci aqui não como um macaco ou como um artesão, mas como o corpo nu do amor que toma forma a partir da incorpórea guerra para tomar as outras formas, para assimilar o macaco e o artesão na sua sabedoria, te dito: aqui me posarei para vos governar após a travessia da Casa do Fogo.”

Foi assim que vim a conhecer “Casa de Treva”.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Xochicuicatl

Bem vindo a Xochicuicatl, um espaço secreto em Xibalba dedicado à música.

Uma Curiosidade Sobre "Voices of Masada"

Voices of Masada descende de Burning Gates e Revolution By Night.


Oblivion Door - Burning Gates


Remnants - Revolution by Night


Desafio


Atonement - Seraphin Twin

A resposta para esta pergunta é também a resposta para o significado do nome desta banda. Qual a diferença entre o aspecto de Lúcifer e o aspecto dos outros Serafins?

Quem descobrir desbloqueará o próximo post Xochicuicatl.

Xochicuicatl

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Uma Curiosidade Sobre "Radio Werewolf"




Nikolas Schreck entrevistado por Tom Metzger

Apesar de Nikolas Schreck estar documentado na Church of Satan, fundada por Anton LaVey, ele era um militante (e se não encontrarem esta informação em mais lado nenhum, é porque sou eu a fonte) da ONA, aparente adversária da Church of Satan.

Em 2002, depois de muitas contradições, cria com Zeena Schreck (filha única de Anton LaVey) o Sethian Liberation Movement. No mesmo ano, se não me engano, lança Demons of the Flesh: The Complete Guide to Left-Hand Path Sex Magic, um livro tendencioso, medíocre, mais ou menos estupidificante e, dentro desse domínio, sem novidade.

Foi um dos mais poderosos representantes da degeneração do movimento gótico e da sua decadência, talvez (dá-se o generoso benefício da dúvida) porque também em si tenha sido poderoso o ímpeto, que ali é puro, de despir as roupagens para vestir a noite. A treva e a roupagem são o mesmo, treva é conhece-lo. A seguir, a treva e a noite não são o mesmo, e há luz nesse saber.


Desafio


Fragments - Voices of Masada

Quem descobrir e deixar na caixa de comentários o que é Masada, desbloqueará o próximo post Xochicuicatl.

terça-feira, 2 de março de 2010

Xochicuicatl

Bem vindo a Xochicuicatl, um espaço secreto em Xibalba dedicado à música.


Strenght Through Joy - Radio Werewolf


Quem descobrir e deixar na caixa de comentários de onde provém originalmente o termo "Radio Werewolf", desbloqueará o próximo post Xochicuicatl.

Vozes da Encruzilhada


Escultura da Basílica de Paray-le-Monial
Guarda o silêncio e o silêncio te guardará


O viandante aguardou, como o cavaleiro vela eternamente sobre a caveira do seu rei, e um dia viu abrir-se sobre si quatro estradas diversas. A cínica escuridão banhava Oeste. A Norte abriu-se a Lua, serenamente cantando. Viu a Sul o Sol, rugindo, inteiras, as planícies. A Este, palpitante, uma gruta para o interior de um coração.

Pensou nas encruzilhadas, recordou-se de como os rabis ali abandonavam os seus bodes, impondo as mãos sobre os seus focinhos e com eles libertando os seus pecados. Aquilo que largamos tem os seus mundos. Meditou. Poderão os mundos arcar, verdadeiramente, com todas as nossas faltas? Pois não é a sua carne aquela do Cristo Gnóstico apenas através do espírito do pecador? Depois escutou os trilhos. E aquele branco, que dizia:
Não sabeis que estais a ser sonhado, e que essa é a fluidez de toda a imobilidade? E se o reconheceres, não estarás já a sonhar? E, ainda, não será este um despertar? O que te pode ser negado?

Aquele amarelo, que dizia:
Quando o Sol está na sua hora mais alta, quem te haveria de usar como tocha? Não ama o leão o Sol? Que negro seria capaz de o amarrar à cólera, se o leão e a fome não são um contra o outro, mas amantes para sempre em paz?

Aquele vermelho, que não dizia nada.

E aquele negro, que dizia:
A um morto, nenhuma potência visível ou invisível nega a vida. A um morto, nenhuma porta se fecha. A um morto, nenhuma maravilha é insondável. A um morto, nenhuma amarra assombra. A um morto, nenhum senhor no trono atormenta.

Então, eu, o viandante, mesmo enquanto aguardava esperei, e aguardando enquanto esperava, vi a canoa tornar-se novamente Adão e Eva. Exaustos, na espera, mumificaram-se nos braços um do outro, arderam sem fim nem óleo.

Até os fantasmas nas ruas se cansaram e, mesmo sem casas, abandonaram os moldes e voltaram para as suas sombrias habitações. Todos os manequins de pus se tornaram relógios do tempo escorrendo para o solo como areia. Sobrou apenas a rua que nada tinha vindo a dizer.